Sou por inteiro quando os teus olhos brilham

Movimentamo-nos nos dias que passam sempre na esperança de cumprirmos uma vida. Fazemos muitas coisas. Talvez demasiadas coisas. Fazemos o que é preciso e tantas vezes o que não é. Demoramo-nos onde não nos devíamos demorar. Gastamos o tempo que é um bem precioso no somatório de enganos.

Consumimo-nos em desacertos apesar de serem absolutamente necessários. Sem eles nunca poderíamos descortinar a doce sensação do acerto. Como escreveu José Régio no seu magistral cântico negro, “(…) não sei para onde vou, não sei para onde vou, sei que não vou por aí.”

Ao sabermos o que não queremos já temos um acerto de valor. Sim, não queremos ir por aí. Podemos não ser muitas outras coisas nem sequer saber por onde queremos ir, mas sabemos que por ali, não! Não vamos por aí. E outra coisa que não nos devemos fazer é trairmo-nos. Não devemos fazer de nós metades quando devemos ser inteiros para colocarmos a alma toda em tudo o que fazemos. E uma das piores traições que nos podemos fazer (como vi escrito por aí) é não lutarmos pelo que nos faz brilhar os olhos.

Isso significa que nunca devemos desistir de nós, das pessoas de quem gostamos e de tudo o que gostamos de fazer. Nesta geografia de afectos que é a nossa vida há algumas coisas que nos fazem brilhar os olhos. Uma delas é amar! E amar significa, entre muitas outras coisas, fazer brilhar os olhos das pessoas que amamos. E se os olhos de quem amamos brilharem os nossos enchem-se de luz e nós somos, nesses instantes, completos e inteiros.

Elevamo-nos, sobretudo no recato, a um patamar maior de felicidade. Só podemos fazer brilhar os olhos dos outros se estivermos convictos nessa procura do nosso brilho interior, da nossa felicidade para a podermos alargar aos outros, a todos e aos que nos são próximos, e sobretudo, aos que amamos. Sim, sou por inteiro quando os teus olhos brilham.

Quero ser feliz, fazendo-te feliz com olhos que brilham e fazem brilhar. Não quero esperar pelo futuro que tenho saudades dele. Quero agora. Já! Aqueles que estão sempre à espera do futuro esquecem-se do presente. E o presente somos nós no agora e na vida que queremos cumprir sem demoras desnecessárias porque ela corre muito rápido.

Sabemos que nem tudo pode brilhar a toda a hora. Nem tudo é fácil. Mas também nem tudo é assim tão difícil. Se quisermos, se nós quisermos, a vida acontece como desejamos, nem que seja pelos instantes em que os teus olhos brilham. E se os teus olhos brilham eu sou por inteiro, não por egoísmo de querer ser inteiro em vez de me desfazer em metades.

Mas para viver a absoluta beleza que repousa na arte de te amar quando os teus olhos brilham. E não é necessário que o amor tenha etiquetado o seu efeito de boomerang, de retorno ou de compensação. Se fizer brilhar os teus olhos já estou completo, pelo menos naquele momento em que os teus olhos brilham. O resto virá depois, sem necessidade de pedidos ou exigências disto e daquilo. Quando os teus olhos brilham os meus estão cheios de alma e sou por inteiro porque os teus olhos brilham.