Primavera

Aí está a Primavera em todo o seu esplendor. Há muito que ansiamos por ela para, finalmente, consumarmos a renovação do caminho. As águas em abundância têm lavado as pedras da calçada de uma forma consistente. A invernada tem sido forte, demonstrando a força da natureza. Durante este tempo as árvores despiram-se e encolheram-se para melhor resistirem às intempéries deste tempo. Entretanto, recolhemo-nos nas nossas cavernas para nos abrigarmos dos elementos.

A temporada fria e cinzenta vai longa, convidando a reflexões, muitas, e a outras tantas resistências a adversidades. A lareira foi e será sempre uma companheira fiel, de enorme confiança e aconchego. Foi nos braços dela que caímos nas noites escuras para recebermos o calor da paz e da quietude. Ela foi sempre afecto e luz na escuridão que atravessámos sempre ancorados no porto seguro que são os nossos de sempre. Entre espaços do tempo fomos vislumbrando as sombras que se movimentaram num frenesim interminável.

Tentámos perceber o seu sentido e a expressão do seu bailado. Nem sempre conseguimos decifrar todos os seus códigos e movimentos. A caverna é escura e há sempre muitos arbustos com mãos escondidas. Ainda assim resistimos ao tempo frio sabendo que a estação da luz chegaria até nós se continuássemos a caminhar e a resistir às intempéries.

Agora a Primavera aí está para nos acolher no seu regaço, ajudando-nos a renovar a esperança e o caminho perfumado que se faz sempre com luz. Este tempo esplendoroso convoca-nos para a ação e para o reforço da determinação. Os dias são de mudança e de renovação. Saibamos aprender com a natureza a polvilhar a geografia do nosso olhar com cores diferenciadas para, em unidade, construirmos o que tivermos de construir. O tempo de luz está aí, aproveitemo-lo.