Conquista
Livre não sou, que nem a própria vida
Mo consente.
Mas a minha aguerrida
Teimosia
É quebrar dia a dia
Um grilhão da corrente.
Livre não sou, mas quero a liberdade.
Trago-a dentro de mim como um destino.
E vão lá desdizer o sonho do menino
Que se afogou e flutua
Entre nenúfares de serenidade
Depois de ter a lua!
Miguel Torga, in 'Cântico do Homem'
Recorro com frequência aos mestres do pensamento na sua expressão lusófona e castelhana para reforçar o meu caminho feito de palavras juntas que vão embrulhando as emoções do caminho. Volto sempre a Miguel Torga e à sua densidade poética para com ele celebrar a liberdade que desejamos, sobretudo quando nos sentimos agrilhoados.
Entro no meu “tear da escrita” para, inspirado no magnífico poema “conquista”, tecer mantas de palavras que nos libertem do frio que a falta de liberdade sempre traz. Passo a lançadeira à mão e digo, como Torga, que “livre não sou, mas quero a liberdade.”
Quero cumprir os sonhos de menino, libertando-me, um a um, de todos os grilhões que nos querem colocar a cada curva da estrada. Tenho em mim - como nos disse Fernando Pessoa - todos os sonhos do mundo e também a absoluta teimosia de os procurar cumprir. Solto a minha liberdade que, tal como Torga, não se deixa acomodar na espuma dos dias. Viver é preciso. E só se pode viver, verdadeiramente, em liberdade como os dias de sol sempre reclamam. Reforço que livre não sou, mas quero a liberdade.
Luto por ela todos os dias. Mas faço-o em absoluta serenidade, ouvindo o cair das águas da ribeira enquanto contemplo os nenúfares dos lagos da esperança que estão aí à nossa frente para os fitarmos até ao infinito. Um após outro, quebro os grilhões da corrente enquanto estímulo a teimosia que tudo faz avançar. Não podemos desistir de nada mesmo que as correntes nos pesem.
Teimosamente devemos insistir em parti-las. Devemos fazê-lo por nós e pelos outros. Desejamos a lua para que nos ilumine no meio das trevas. Se não a conseguirmos alcançar, tentamos uma e outra vez. Todas as que forem necessárias. Desistir não é opção. A nossa aguerrida teimosia não mo consente porque, todos os dias, deseja quebrar um grilhão da corrente. Livre não sou, mas quero a liberdade. Trago-a dentro de mim como um destino.
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