A nossa relação com os outros é fundamental para a nossa inserção na comunidade em que vivemos. Parece uma tarefa simples mas, ao contrário, é extremamente exigente, para nós e para os outros. Tudo o que os outros nos dizem é importante para nós, seja no sentido positivo ou negativo, por mais que se tente desvalorizar essa evidência intemporal. Nos dias que passam temos que ser fortes para ultrapassarmos os obstáculos do caminho. Por vezes, temos que parecer ainda mais fortes do que somos para conseguirmos fazer o que temos de fazer nesta nossa viagem. Gostamos de corresponder às expectativas que os outros depositam em nós e de dar resposta pronta a todas as solicitações. Nessa ânsia e nesse rodopio diário esquecemo-nos tantas vezes da nossa individualidade, das nossas necessidades e, sobretudo, dos nossos limites. Se não reconhecermos que existe uma geografia que estabelece os limites do nosso esforço estaremos sempre a remar contra a maré, sem pausas, e a caminho da exaustão sem retorno. O reconhecimento dos limites e de todas as nossas fragilidades é, numa primeira linha, um acto de humildade; mas é, sobretudo, uma atitude inteligente que baliza os nossos comportamentos e confere mais honestidade na relação com os outros. Quando somos nós, envergamos todas as medalhas das nossas fragilidades e limitações. Isso não nos torna mas fracos. Antes pelo contrário, torna-nos mais fortes e, logo, mais verdadeiros. Se conseguirmos assumir isso retiramos peso a todas as nossas responsabilidades para executarmos melhor as tarefas que devemos realizar com naturalidade e também para pedirmos auxílio e colaboração para as acções de maior exigência e mais distanciadas das nossas zonas de conforto. Se olharmos para nós antes de olharmos para os outros seremos capazes de construir mais no colectivo porque, precisamente, nos focamos na individualidade apenas nos momentos em que nos devemos focar. Ao assumirmos os nossos limites estamos a estimular a mudança da adequação às circunstâncias e a construir, em conjunto, novos caminhos para andar. A exigência da comunidade em relação a nós não desaparecerá. Continuaremos a sentir a pressão de executar, de executar bem e de alcançar o sucesso. Mas também continuaremos a falhar e a errar, cumprindo a nossa humana dimensão. Porém, não ficaremos pelo caminho e muito menos a pensar em cada um dos dias já cumpridos. Olharemos sempre em frente, com energia renovada, e com um contrato social de maior transparência e honestidade. Se reconhecermos os nossos limites podemos tudo, mesmo aquilo que nunca conseguiremos alcançar. Avançaremos sem medo para as veredas do futuro tendo sempre presente que existem limites e que, às vezes, é preciso parar para depois recomeçar.
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