O bom senso está para as palavras e acções como o sal está para a comida. Ambos são necessários para temperar e encontrar equilíbrios. E os temperos são isso mesmo. São temperados. Não são mais nem menos. São a medida exacta do equilíbrio e da razoabilidade. Nos tempos que correm deparamo-nos com demasiadas impulsividades e posições muito extremadas. É como se o tempo e o espaço fossem sempre curtos para a dimensão das palavras e das atitudes de toda a hora e de cada instante. A velocidade a que corre o tempo é parecida com a rapidez com que debitamos palavras e fazemos coisas. E como dizemos e fazemos muitas coisas ao mesmo tempo, alimentamos automatismos alicerçados na nossa moderna capacidade multifuncional de dizermos e fazermos muitas coisas com demasiada rapidez deixando, quase sempre, o bom senso no bolso. As palavras e as acções precisam de ser temperadas com bom senso para que o resultado final seja mais saboroso. Para cultivarmos essa capacidade de ponderar precisamos de saber ouvir e escutar a voz da razão. Precisamos de resgatar a paciência ao tempo que nos falta ou que nos quer fugir. Precisamos de reflectir sobre o que estamos a fazer e sobre o caminho em que estamos a andar. Não precisamos de correr muito porque não amanhecerá mais depressa. Tudo tem o seu tempo e, sobretudo, o seu lugar. Se tivermos paciência connosco e com os outros ganharemos espaço e tempo à impulsividade. Provavelmente, não faremos mais coisas. Faremos menos, com toda a certeza, mas com mais qualidade. E, melhor ainda, teremos mais prazer em tudo o que fizermos na medida em que apreciaremos cada movimento, cada gesto, cada palavra, como se fossem as coisas mais belas deste mundo. Enquanto nos entretivermos nesta confecção mais demorada muitos passarão por nós, em corridas desenfreadas, quase loucas, mas sem direcção e, regra geral, sem destino. O tempo da nossa vida é uma passagem compactada num instante. Entre o ontem e o amanhã tudo acontece num abrir e fechar de olhos. Muitos de nós vão tendo consciência disso. Porém, apesar desses sinos que tocam continuamos a correr de forma desenfreada para chegarmos à frente e para nos chegarmos à frente dos outros. Sim, precisamos de uma mão mais leve que espalhe o sal da vida na medida certa. Precisamos de acertar o relógio do tempo com os ponteiros do nosso coração e dos nossos afectos. Às vezes, corremos tanto e fazemos tantos sacrifícios para encontrarmos uma flor especial que está lá no alto, no topo da montanha fria e gelada, quando a flor mais especial de todas está ali ao nosso lado, quieta e perfumada, à espera de um sopro de esperança e de um beijo ternurento que dê força ao crescimento da sua incomensurável beleza. Essa flor que está sempre connosco, mesmo quando subimos à montanha, à procura da melhor essência para lhe dar, precisa apenas do nosso tempo, para que a possamos contemplar, regar e cuidar para que o seu discreto brilho continue a encher a nossa casa de luz e de perfume. Enquanto faço contas à viagem até ao topo da montanha deixo-me levar pelo som do coração que, entre muitas outras coisas, me estimula a lançar a âncora à terra que gosta de mim para continuar a temperar o que deve ser temperado.
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