O primeiro dia de semana é sempre um dia especial no Fundão. É dia de mercado! A cidade agita-se, ganha uma cor diferente, anima-se e movimenta-se de uma forma diferente. No mercado do Fundão vende-se e compra-se quase tudo. Devido aos tempos difíceis que atravessamos o mercado é para muitas pessoas o espaço comercial que está ao alcance das suas bolsas. Para outros o mercado é um mundo próprio independentemente das carteiras estarem mais ou menos recheadas. Este mercado é uma paleta de cores, um lugar de afectos e de encontros. É um espaço extraordinário, livre, intenso ? e espelho de uma enorme dimensão cultural. Há muitas décadas que é assim! As segundas-feiras no Fundão têm um encanto especial! Neste tempo de festa e alegria o mercado é lugar de compra de presentes e também de entrosamento com o espírito do Natal. Sempre que posso atravesso o mercado do Fundão, uma e outra vez! É uma espécie de ritual de passagem para lá e para cá que me faz sentir bem. É um bálsamo e um prazer enorme. Gosto de ver esta agitação e contemplar a sua sonoridade. É um quadro vivo extraordinário que tem a Serra da Gardunha como pano de fundo. Mas, na primeira segunda-feira de Dezembro uma bancada despertou a minha atenção com maior intensidade. Lá estavam as tradicionais figuras do presépio que se vendiam em conjunto e em separado. São réplicas de presépios simples mas muito antigos. Estas figuras podem ser encontradas em muitas casas da nossa região onde, felizmente, ainda se mantém a magia do Natal plasmada na montagem do presépio ao lado das lareiras. Junto dessa bancada uma senhora trazia na mão um pastor, duas ovelhas e um rei mago enquanto apreciava um castelo para completar o quadro de figuras que lhe faltavam. "Se calhar também levo a ponte! Fica lá bem", dizia com entusiamo! "O meu presépio era do meu avô?já tem muitos anos, rematou!" Olhando para aquele cenário andei para trás no tempo e lembrei-me dos meus tempos de miúdo. Sempre tive um fascínio pelo Natal e pelo presépio. Ia ao musgo com a minha tia Conceição que tinha tanto ou mais entusiamo do que eu. Julgo que foi ela que me transmitiu esta magia do Natal. A aventura de subir a serra à procura do musgo era tão intensa como a excitação que sempre tinha com a construção do presépio. O presépio lá de casa era montado assim com coisas simples e naturais, mas ficava sempre muito bonito. Passava os dias a olhar para ele e a imaginar como seria a vida naquele tempo representado em pequenas figuras. Aquelas imagens do presépio ficaram sempre gravadas na minha memória como exemplos de afecto, família, paz e tranquilidade. Hoje o presépio está mais vivo do que nunca no meu pensamento e reaviva em cada quadra natalícia um tempo de enorme serenidade e alegria interior. São Francisco de Assis mostrou-nos em 1223 a encenação do nascimento de Jesus. Mas, mais do que um quadro vivo São Francisco de Assis mostrou-nos um caminho que nos ajuda a ver a importância da humildade que assenta na certeza de que todos os homens nascem iguais. Num tempo de grandes dificuldades económicas e de ausência de valores devemos reflectir sobre a grandeza que o presépio nos transmite através da sua simplicidade. O Natal é uma época de grande alegria, amor e fraternidade. Mas, para aqueles que passam por muitas dificuldades a diversos níveis o Natal exerce uma pressão demasiado severa que vai no sentido oposto à ideia que São Francisco de Assis nos transmitiu quando construiu pela primeira vez um presépio numa gruta da região de Greccio em Itália. O Natal do consumo desenfreado é um paradoxo nos dias que correm. As televisões exibem-nos imagens de famílias felizes que estão reunidas em casas confortáveis e à volta de mesas repletas de iguarias. Apela-se freneticamente ao consumo. O Compre isto e compre aquilo é repetido até à exaustão em todos os canais e plataformas de comunicação. Entretanto, demasiadas famílias travam um combate desigual pela sobrevivência. O desemprego e as dificuldades do dia-a-dia tornam os dias cinzentos e insuportáveis. Para eles o Natal é uma estrela que não brilha e as imagens da televisão são momentos de pressão que, na maioria dos casos, se tornam difíceis de assimilar principalmente quando existem crianças pelo meio. Não sou contra o comércio e o consumo. Antes pelo contrário. O comércio nesta altura do ano ajuda a dinamizar a economia e a criar e, sobretudo, manter muitos postos de trabalho. Mas, sou a favor da redescoberta do espírito do Natal e pelo incremento dos valores da humildade e da grandeza que o presépio nos transmite. Saibamos, como aqui no mercado do Fundão, onde todos são semelhantes independentemente das suas bolsas, contemplar as figuras do presépio e pelo menos construí-lo no nosso coração para que a partilha possa acontecer. O Natal é dar. Dar amor, compreensão e tolerância. É dar e ajudar quem precisa neste tempo e em todos os dias do ano. Saibamos equilibrar o conforto que todos desejamos para nossas casas com a abundância dos afectos, do amor e da fraternidade. Julgo que assim, entre todos, conseguimos seguir pelo caminho que São Francisco nos indicou há muitos séculos atrás. Feliz Natal e festas muito felizes para todos!
Miguel Nascimento
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