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Entre o tempo digital e dos afectos
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Entre o tempo digital e dos afectos

Actualizado 15/06/2014
Miguel Nascimiento

A sociedade actual percorre os dias a uma velocidade estonteante. Andamos depressa. Corremos de um lado para outro. Nunca temos tempo para nada. Fazemos coisas repetidas todos os dias. Mecanizamos procedimentos. Fazemos coisas porque sim e porque não. Parece que o nosso tempo está cheio! As novas tecnologias que estão à nossa disposição ajudam-nos a realizar tarefas com mais rapidez, eficácia e eficiência. Com elas ganhamos tempo e fazemos muito mais e com maior qualidade do que há umas décadas atrás. Está aí o tempo digital. Mas, este tempo em vez de nos libertar escraviza-nos! Este tempo lançou-nos uma neblina, uma espécie de feitiço! Colou-nos aos telemóveis, aos tablet´s, às redes sociais e ao mundo da comunicação digital. Com tanta tecnologia devíamos ter mais tempo livre. Mas não temos! Devíamos ter mais espaço para nós e para os outros. Mas não temos! Devíamos ter mais tempo para os afectos! Mas não temos! Temos apenas mais tempo para fazermos mais. Este "tempo cheio" deixa pouco espaço para o pensamento e para o desenvolvimento dos sentidos que completam a dimensão humana. Entretanto a vida corre e foge-nos da mão como os grãos da areia da praia. Naturalmente precisamos deste tempo digital e de estimular o desenvolvimento e a inovação. A nossa evolução está associada a este percurso. E sabemos que esse é o caminho. Mas também sabemos que precisamos de equilíbrios. Acima de tudo, precisamos de resgatar a esperança que está dentro do nosso coração, libertando os sentimentos e abrindo a janela dos afectos. Se nós quisermos temos tempo para o que verdadeiramente é importante! E a importância da nossa caminhada está nas pessoas e em tudo o que sonhamos com elas. Os afectos dão sentido à nossa vida e cor ao nosso tempo. Temos que abraçar, beijar, conversar e ouvir. Às vezes basta um simples "olá", um telefonema a quem está só ? uma palavra amiga a quem precisa de atenção, principalmente em momentos menos bons! É preciso celebrar a vida e partilhá-la com quem se cruza no nosso caminho. Há dias fiquei comovido com um história que me chegou às mãos e que fala de afectos. Um homem, de nome João, trabalhava numa fábrica de distribuição de carne. No final do seu dia de trabalho deslocou-se a uma das arcas frigoríficas para verificar se tudo estava a funcionar bem. Teve algum azar porque, num ápice, a porta fechou-se e ficou aprisionado dentro da arca sob temperaturas muito baixas. O João gritou, bateu com todas as suas forças na porta mas ninguém o ouviu. A maioria dos trabalhadores já tinha saído e no exterior era praticamente impossível alguém perceber o que se estava a passar lá dentro. Entretanto, o João ia congelando e ficando sem forças. A morte ia espreitando. Cinco horas depois quando a esperança do João estava a desaparecer por completo alguém abriu a porta e salvou-lhe a vida, resgatando-o de uma morte certa! Era o segurança da fábrica! O João perguntou-lhe porque o segurança teve a ideia de abrir aquela porta se isso não fazia parte da sua rotina de trabalho. O segurança respondeu-lhe que trabalhava naquela fábrica "há 35 anos onde todos os dias entravam e saíam centenas de trabalhadores?" e que o João era dos poucos que o cumprimentavam pela manhã e se despediam dele ao final da tarde. Hoje, como sempre, registei o seu "olá" no início do dia mas não ouvi o seu "até à manhã" que me costuma dirigir no final da tarde. Todos os dias espero o seu "olá" e o seu "até amanhã" porque para o João eu sou "alguém". Por isso, a sua manifestação de afecto tem para mim uma importância extraordinária! Hoje, quando não ouvi o seu "até amanhã" sabia que podia ter acontecido alguma coisa. Fui procurá-lo e encontrei-o! Estou muito feliz por isso! Esta história simples tem um grande significado. Aqui os afectos salvaram uma vida. Estou convencido que podem salvar muitas mais. Basta que tenhamos consciência da importância da vida e de que como ela é tão curta. Por isso, temos que a viver com intensidade e com o humanismo que nos caracteriza?mesmo num tempo de grande desenvolvimento digital. A dimensão humana manifesta-se no toque, no afecto, na sensibilidade e na expressão da grandeza do nosso coração. Nem sempre estamos bem. Nem sempre fazemos o que devemos. Somos humanos, logo imperfeitos. Mas, apesar das nossas humanas imperfeições podemos sempre arrepiar caminho e resgatar a esperança onde, por vezes, ela parece não existir. Ainda há tempo se nós quisermos!

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