As “trincheiras” são, essencialmente, fortificações de campanha, obras de engenharia militar, escavações no solo que, em ambiente de guerra, servem como mecanismos de defesa e de ataque. Nas batalhas travadas nas trincheiras perderam-se (infelizmente ainda se perdem) milhares de vidas. Salvaram-se muitas, mas o balanço é sempre trágico, como em qualquer guerra.
Na vida, tal como na guerra, “entrincheiramo-nos” para nos defendermos do inimigo que está no outro lado, também nas suas trincheiras, disparando sobre nós para nos atingir e derrotar, tentando matar-nos a todo o custo! Às vezes há disparos de fogo amigo que também matam, por acidente ou de forma deliberada. A dúvida permanece há séculos sobre histórias comuns de mortes que não deviam acontecer dentro da trincheira, provocadas pro fogo amigo, devido a acidente ou em função de mistérios insondáveis.
A guerra é sempre uma tristeza. A vida é luz e alegria, apesar das batalhas duras, sendo que algumas delas são muito difíceis de suportar. A propósito da guerra, mas também da vida, existe um diálogo tão curto quanto impactante, atribuído a Ernest Hemingway no contexto de uma eventual adaptação livre de um extracto de texto de um dos seus melhores livros, “Adeus às Armas”:
- Quem estará nas trincheiras ao teu lado?
- E isso importa?
- Mais do que a própria guerra.
E na verdade, na guerra como na vida, contamos muito com quem está ao nosso lado, nas trincheiras, a travar as batalhas que importam. E essa argamassa que dá pelo nome de amizade, confiança e solidariedade, é a força que nos faz avançar, tantas vezes para terrenos desconhecidos, para tentarmos alcançar a vitória.
O resultado da vida e da guerra será sempre o que vier depois. É e será sempre importante. As vitórias são, recorrentemente, mais saborosas que as derrotas. Mas, antes dessa contabilidade feita sempre em cima de suor, sangue e lágrimas, fica no nosso coração a vitória maior de contarmos com aqueles que importam e que estão sempre connosco nas trincheiras, na luta, na defesa e no ataque das causas comuns que nos unem. Depois, a vitória ou a derrota importam.
Mas quem está nas trincheiras ao nosso lado importa muito mais que tudo isso. A vida mais do que a guerra é o espelho da amizade e da solidariedade daqueles que estão connosco em qualquer circunstância, reunindo no abraço solidário de sempre os defeitos e as virtudes de cada um. Ao contarmos com os que importam, ganhamos a vida e todas as batalhas que tivermos que travar. Nas nossas trincheiras precisamos dos nossos, dos incondicionais que, não estando cegos, conseguem ver tudo o que deve ser visto para, sem hesitações ou calculismos, resistirem e avançarem connosco, defendendo e atacando, dando o peito às balas se isso for necessário para, em nome de todos, salvarmos os valores e a amizade que todos defendemos. Sim, há trincheiras e outros caminhos que valem muito mais que todas as vitórias em todas as batalhas.
A amizade verdadeira é o incomensurável poder das trincheiras, independentemente da sua latitude ou condição. A amizade, em si, é a grande vitória. Alguns não percebem nem nunca perceberão isso. Estão apenas focados na sua individualidade e mesquinhez. Desejam, como todos, avançar. Têm direito a isso. Mas estão dispostos a tudo, mesmo que sacrifiquem o que nunca devia ser sacrificado. Nas nossas trincheiras, estamos vivos e sentimo-nos vivos, mesmo a escorrer sangue. Ali, apesar do fogo cruzado, sentimos que tudo vale a pena, sobretudo pelos que estão connosco, sempre, e que morrem ao nosso lado e nós morremos com eles.
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