Jueves, 12 de diciembre de 2024
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Hey you
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Hey you

Actualizado 05/06/2024 08:09
Miguel Nascimento

Neste mundo tão inquieto, tão cinzento e individualista, deixo-me levar pela melodia e significado dessa bela canção dos Pink Floyd, “Hey You”, para, entre muitas outras coisas, renovar a fé e a esperança na humanidade.

Hey you, don´t tell me there´s no hope at all

Together we stand, divided we fall.

Apesar do que “vemos, ouvimos e lemos” e que “não podemos ignorar” (como bem escreveu Sophia de Mello Breyner) não me venhas dizer que já não há esperança. Se estivermos juntos, resistimos. Se estivermos divididos, caímos. Não aguentaremos muito porque sozinhos não somos nada e não chegaremos a parte nenhuma. A força da unidade em que nos fundamos é mais forte que o somatório de todas as nossas singularidades e heterogeneidades. O “juntos somos mais fortes” parece uma frase banal e de uso corrente, mas encerra em si um significado extraordinário que devemos ter sempre presente. Esquecemo-nos disso, com frequência. Somos levados na corrente dessa feira de vaidades efémeras, atraídos por luzes de falso brilho que nos induzem a caminhos erráticos e sem propósitos. Mesmo os que se vestem pela aparente humildade são tão ou mais narcísicos que os outros. Todos querem ganhar, a qualquer custo e preço, seja lá isso o que for, esquecendo-se que a viagem é a verdadeira dimensão da nossa vida e que deve ser aproveitada com aqueles que seguem connosco. O mundo que conhecemos está ao contrário na exacta medida em que fomos deixando crescer muitos “exércitos” de descontentes. Como a comunidade não lhes deu o que queriam, nessa corrida desenfreada das luzes do individualismo excessivamente dependente do materialismo, começaram a surgir frustrações disto e daquilo que se foram acantonando em conceitos extremistas e vazios de conteúdo mas que encaixam na perfeição num mundo vivido a preto e branco, assente em pólos contrários. Quem não está a favor está contra. Não há meio-termo, nem caminhos do meio, de equilíbrio e ponderação. Tudo se radicaliza, e as cordas esticam até partirem.

Nas pequenas coisas também somos assim, uma espécie de reflexo da visão macro que temos do mundo. É pela força que vamos. É pela força que impomos as nossas ideias, sem pensarmos nos danos que causamos aos outros. O diálogo não existe. É fictício e apenas serve para mantermos de pé as últimas fronteiras da diplomacia.

A humanidade vai-se perdendo aos poucos, nas pequenas e grandes coisas. Mas ela não pode morrer. É também por isso que não podemos deixar de ter esperança. E só podemos ter mais luz no caminho se confiarmos mais nos outros, no colectivo e no que, entre todos, podemos fazer para melhorar as circunstâncias em que vivemos.

Esta demanda nunca será fácil uma vez que já avançamos muito na geografia a preto e branco e no universo do individualismo exacerbado. Vamos desanimar muitas vezes enquanto tentarmos construir em conjunto. Nem todos pensam nisso. Mas temos que trazer os que não acreditam para o nosso lado porque, também em nome da inconsciência que eles representam, não podemos perder a esperança. Resistimos se estivermos juntos, divididos, caímos no primeiro abismo que nos aparecer. Aí também vamos todos, os que têm consciência e os que não sabem o que isso é.

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