Miércoles, 01 de mayo de 2024
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Quando não é para ser
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Quando não é para ser

Actualizado 10/04/2024 13:05
Miguel Nascimento

Recorro com frequência a Miguel Torga. Cito-o em diversas circunstâncias. Gosto, em especial, desta frase: “o destino destina, o resto é comigo.” Na minha modesta interpretação entendo que o mestre das palavras quer dizer-nos que o destino terá alguma coisa reservada para nós. No entanto, devemos fazer a nossa parte para que algumas coisas aconteçam.

Nem todos acreditam no destino e muito menos na fluidez do cosmos. Acreditamos mais no que está ao nosso alcance, no que podemos fazer com as nossas mãos e com o nosso esforço. É daí, dessa base racional, que muitos fazem o caminho, sempre esforçado e determinado. Porém, tantas vezes, apesar do esforço e empenho as coisas não acontecem.

Na verdade, contamos com o nosso esforço mas desvalorizamos o esforço de outros que remam em sentido contrário ao nosso e que, não raras vezes, têm mais remos e barcos maiores. Sim, às vezes não é para ser apesar de desejarmos e fazermos muito para que aconteça. Por isso, também temos que mudar de perspectiva face ao que a realidade nos impõe. Neste sentido, o destino acontece ao contrário do que fomos sonhando.

Aceitamos e seguimos. Mais à frente, agradeceremos por não ter acontecido o que tanto desejámos. Ao seguirmos no caminho, noutro caminho, fomos encontrando pessoas, projectos e lugares com que nunca sonhámos. Começamos por fazer o que nunca tínhamos projectado até nos encontramos a viver o que nunca tínhamos pensado e vivido. Se tivéssemos seguido o caminho sonhado não poderíamos agora estar a viver o que nunca sequer pensámos e vivemos.

Como sabemos o que conta, verdadeiramente, é o presente e a felicidade que o seu tempo nos pode dar se soubermos deixar fluir, agradecer, e continuar a remar, mesmo com menos remos e barcos mais pequenos, deixando que a maré nos faça atracar no porto seguro que entender. Às vezes, não é para ser. É para acontecer o que o destino nos destinou em segredo e sem grandes planos. Entretanto a vida segue a sua viagem sem grande esforço porque o tempo e o espaço destinados são a nossa exacta medida. Na nossa cabeça construímos futuros que não aconteceram nem acontecerão.

Mas, por outro lado, a vida deu-nos o que quis dar porque, entre os desígnios do que se pode ou não explicar, reservou-nos outra mesa noutro lugar para que a pudéssemos partilhar. Quando queremos que aconteça, às vezes não acontece. Quando não fazemos por acontecer, acontece, sem sabermos muito bem porquê. É como nos disse Fernando Pessoa, “primeiro estranha-se e depois entranha-se”. Afinal, justamente, o que não queríamos é o que está reservado para nós.

E nesse sentido o que, aparentemente, julgávamos que era menos bom é, na verdade, uma primeira grande bênção. A segunda, é o facto de não ter acontecido, por alguma razão, o que tanto desejámos. Ficamos sem saber se no caminho desejado alguma coisa não iria correr bem. Ficamos a saber que o caminho do presente, com coisas que correm bem e menos bem, é o nosso e aquele que nos traz luz e alegria. Saibamos aproveitá-lo enquanto o tempo é nosso, deixando que o destino destine o que tem que destinar. Sim, o resto é connosco se deixarmos fluir o que deve fluir, interpretando todos os sinais que nos são revelados sem esforço e com absoluta naturalidade.

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