, 28 de abril de 2024
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Em nome do silêncio
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Em nome do silêncio

Actualizado 21/08/2023 07:59
Miguel Nascimento

A nossa vida tem muito ruído e confusão. Somos barulhentos por dentro e por fora. Gastamos muito as palavras. Usamo-las em demasia dizendo pouco. Deixamo-nos levar pela confusão ruidosa de que todos fazemos parte. Não paramos para escutar. Não nos escutamos. Não procuramos o silêncio para nos deixarmos ouvir. Precisamos dessa quase ausência de ruído para termos clareza no pensamento e no coração. Se convocarmos a nossa quietude libertamos os nossos sentidos para se tornarem mais atentos e vigilantes.

Aí, nesse estádio de nós, deixaremos de flutuar pela vida para a agarrarmos com mais intensidade. O sacerdote e escritor Pablo D’ Ors utiliza a metáfora do deserto para abordar a nossa interioridade, na medida em que aquele imenso espaço das areias “é um lugar em que o horizonte tem a amplitude que o homem merece e de que necessita.” Neste sentido, se estivermos determinados em percorrer as nossas veredas da interioridade, devemos “fazer deserto, fazer silêncio”.

Um provérbio tuaregue diz-nos que “quem não conhece o silêncio do deserto, não sabe o que é o silêncio”. O deserto , esse lugar simbólico, bíblico entre outros, foi também percorrido por Antoine de Saint-Exupéry que o traduziu desta forma: “Há um silêncio de paz, quando o deserto dispensa, ao anoitecer, a sua frescura, dando-nos a impressão de que já chegámos ao porto tranquilo, e as velas amainaram. Há o silêncio do meio-dia, quando sob o sol escaldante cessam pensamentos e movimentos.

E há o silêncio profundo, quando, de noite, até a respiração se suspende, e começamos à escuta.” Nunca fui ao deserto. Mas um dia irei lá, também para sentir esse silêncio de que nos falam os tuaregues. Enquanto essa viagem não acontece vou utilizando a metáfora de Pablo D’ Ors para me encontrar comigo, para descer às profundezas do silêncio. É justamente nessa geografia de encontro que procuro clarear o pensamento e o coração para seguir caminho, de forma mais leve e disponível. Aí, se realizarmos este exercício vamos dando mais valor às palavras, usando-as na devida proporção para que nunca se transformem em pedras. O silêncio eleva-nos, torna-nos mais fortes e tranquilos. Na verdade, como escreve Miguel Sousa Tavares “No teu deserto”, a coisa mais difícil e mais bonita de partilhar entre duas pessoas é o silêncio. Sim, não precisamos de falar só porque vamos calados.

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