, 28 de abril de 2024
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Agora nunca é tarde
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Agora nunca é tarde

Actualizado 14/08/2023 08:03
Miguel Nascimento

A nossa vida é feita de ciclos, de caminhos percorridos. O tempo e os ponteiros do relógio que andam sempre para a frente vão-nos fustigando, deixando as suas marcas profundas. Quando somos jovens não pensamos na velhice. Ainda bem. Mas quando passamos pela meia idade vamos fazendo contas à vida, olhando para trás e para a frente. Sabemos que a cada dia que passa temos menos tempo para caminhar. Mas também não nos podemos angustiar com isso.

O envelhecimento é um privilégio, negado a muitos, que devemos saber aproveitar e saborear. Aliás, como disse Simone de Beauvoir “viver é envelhecer, nada mais”. Não ficamos velhos de um dia para o outro. Vamos envelhecendo. Sabemos disso. Porém, mesmo sabendo disso, não aproveitamos na plenitude o privilégio de viver que nos foi concedido.

Gastamos o tempo com coisas banais, com repetições e rotinas que condicionam e matam os sonhos que ainda podem ser sonhados e vividos até ao nosso último fôlego. Perdemos facilmente a esperança quando afirmamos que agora já é tarde para cumprirmos o que um dia desejámos e sonhámos. A este propósito vale a pena reflectir no que nos disse o saudoso Pedro Barroso no seu magnífico poema feito canção “agora nunca é tarde” (que não me canso de revisitar): “E nos papéis antigos que rasgamos/ Há sempre meia dúzia que ainda guardamos/ São os planos da conquista do Pólo Norte/ Que fizemos um dia com sete anos numa tarde/ E que estiveram perdidos trinta anos/ E agora, se calhar, maldita sorte!/ Não é que por desnorte, acaso ou esquecimento/Alguém já descobriu o Pólo Norte /E agora pronto, e agora pronto, agora já é tarde”.

Dizemos tantas vezes que agora já é tarde para nos acomodamos ao que não fizemos porque não quisemos ou não pudemos fazer. O tempo que avança justifica-nos na nossa incapacidade de realizarmos os nossos sonhos. Esta nossa acomodação é uma desistência lenta, uma espécie de resignação subliminar que nos mata aos poucos apesar de estarmos vivos. Seguimos caminho a cada volta do tempo dizendo para nós que agora já é tarde para conquistarmos o que um dia desejámos conquistar.

Maldita sorte, proclamamos em processo justificativo da nossa incapacidade de sermos nós por inteiro para seguimos pelo sonho como nos disse Sebastião da Gama. O caminho segue e a velhice chegará no seu tempo se tivermos a sorte de contar com esse enorme privilégio. Mas ao seguirmos viagem também temos que ter a coragem de, como nos estimula Pedro Barroso, nunca abdicarmos de pensar “com direito à ironia, ao sonho, ao ser diferente/

E será talvez uma forma inteligente de, afinal, nunca/ Nunca ser tarde demais para viver/ Nunca ser tarde demais para perceber/ Nunca ser tarde demais para exigir/ E nunca ser tarde demais para acordar”. O tempo que corre como se fosse um mar em que se navega é para estarmos acordados para nós e para os outros. É para amarmos e envelhecermos juntos. O tempo do agora diz-nos que nunca é tarde para nada. É tempo de fazermos para que a vida aconteça sempre e enquanto pudermos respirar.

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