Jueves, 02 de enero de 2025
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Quando o diabo solta o cavalo
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Quando o diabo solta o cavalo

Actualizado 21/07/2023 08:20

Há dias cruzei-me com uma história antiga cujo autor desconheço. Mas ela é tão simples quanto valiosa no alcance do significado que encerra. Partilho-a agora convosco: “Um cavalo estava amarrado, contrariado, procurando soltar-se. Naquele instante apareceu o diabo e soltou-o. Em liberdade o cavalo entrou nas terras de uns quinteiros e começou a comer a plantação.

Perante este facto o proprietário da quinta pegou na sua espingarda e matou o cavalo. Então o dono do cavalo pegou na sua espingarda e matou o quinteiro. A mulher do quinteiro matou o dono do cavalo. E o filho do dono do cavalo matou a mulher. Os vizinhos em cólera mataram o jovem e queimaram a sua casa. Mas, perante tanto sangue, morte e confusão, alguém perguntou ao diabo: porque é que fizeste isto? O diabo respondeu prontamente: eu só soltei o cavalo!”

Na verdade, esta história conta-nos que o diabo faz coisas simples porque sabe que a maldade está nos nossos corações. Neste caso como noutros, basta soltar o cavalo que nós, com tanta raiva e ódio, acabamos por entrar numa espiral de violência e destruição. Somos nós que alavancamos o mal. Somos nós que lhe damos força e caminho.

Afinal o diabo só lhe dá um jeitinho. Empurra-nos para o pior que somos capazes de fazer. Solta-nos o cavalo! Aliás, a este propósito, o Papa Francisco fala-nos de Jesus e dos seus encontros regulares com o diabo e até “quando o diabo se finge educado” (In meditações matutinas na Santa Missa celebrada na capela da Casa Santa Marta, 12.10.2018): “(…) Jesus muitas vezes, nos Evangelhos, expulsou os demónios, que eram os verdadeiros inimigos dele e nossos (…) A luta entre o bem e o mal por vezes parece demasiado abstracta: a verdadeira luta é a primeira entre Deus e a serpente antiga, entre Jesus e o diabo (…) E trava-se esta luta dentro de nós: todos estamos em luta, talvez sem o sabermos, mas estamos em luta (…) Sim, repetiu o Papa Francisco, estamos em luta”.

E eu, modestamente, acompanho o pensamento de sua Santidade, deixando uma margem muito larga para os que não acreditam em Deus, para os que não acreditam no diabo, para os que não acreditam em nada ou coisa nenhuma. Mesmo para quem não acredita em Deus, no diabo ou em coisa nenhuma, a verdade é que a nossa sociedade está há muito imersa na dicotomia luz e trevas. Depois há os descrentes de tudo e mais alguma coisa que também têm que ser respeitados.

Não faço, como nunca fiz, juízos de valor sobre a fé ou a falta dela que as pessoas evidenciam de forma mais ou menos discreta. Porém, o tempo histórico tem uma intensidade muito forte. E quem lê coisas sabe que a humanidade sempre foi confrontada, pelo menos desde há mais de dois milénios com o caminho dual de escolha entre Deus e o diabo. Ora, o Papa Francisco, vem dizer-nos que estamos em luta nas nossas escolhas, tantas vezes sem o sabermos, entre o bem e o mal. Estamos em luta quando nos deparamos com o cavalo que o diabo soltou. Aí, confrontados com o que somos, verdadeiramente, temos que saber o que fazer. Naturalmente, temos medo do diabo ou somos tomados por ele. As nossas respostas a cada circunstância da vida, do caminho, marcarão o passo.

Se Deus existe o diabo também. É a nós que nos compete seguir o caminho em que depositamos a nossa fé. Curiosamente, Umberto Eco, proclamava que a “libertação do medo do diabo é sabedoria”; ou seja, vai muito para além da fé. Em reforço deste pensamento Mircea Eliade disse-nos que “a liberdade absoluta se conquista pelo amor: só o amor liberta o homem da sua natureza e expulsa o animal e o demónio.” Saibamos semear o amor nos corações para que a bondade e a tolerância cresçam em abundância.

Depois, com toda a luz no caminho, cada um de nós deve decidir o que quer fazer da sua vida, sem mágoas e arrependimentos. Depois dessa ponderosa decisão, o diabo já pode soltar o cavalo que nós saberemos o que fazer, entre pegar ou não na espingarda. Não vá o diabo fingir-se educado sem estarmos atentos ao que os outros fazem e, sobretudo, ao que nós fazemos.

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