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É a paciência que nos faz avançar
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É a paciência que nos faz avançar

Actualizado 21/06/2023 07:53
Miguel Nascimento

A paciência é uma virtude extraordinária. Faz-nos seguir em frente, avançar, sem pressa mas sem perdermos tempo, como nos disse José Saramago. Cultivar esta grande qualidade da nossa existência exige de nós o que tantas vezes julgamos não possuir. A paciência é a uma das grandes expressões da nossa humanização e da nossa absoluta necessidade de viver em comunidade.

Os que têm paciência, sobretudo para os outros e para os seus momentos de cólera, são também os mais tolerantes e persistentes. São também os que sabem o que querem e também os que querem sabendo que os outros importam no caminho. A vida está repleta de contrariedades e de obstáculos que é preciso superar. Necessitamos de todas as nossas competências para seguirmos em frente, nomeadamente quando atravessamos montanhas duras e os vales do deserto. A paciência é talvez a virtude mais assertiva de todas.

Mas não é fácil de exercer. No meio do frenesim em que vivemos e das corridas desenfreadas em que entramos, talvez seja tempo de adoptarmos o ritmo da natureza, cujo segredo é a paciência, como nos disse o filósofo Ralph Waldo Emerson. Se conseguirmos observar bem o que nos rodeia percebemos, com facilidade, que a natureza tem o seu ritmo e leva o seu tempo a desenvolver os seus sistemas que pacientemente se vão fortalecendo para suportarem as metamorfoses dos ciclos, dos solstícios e equinócios. Nós, se não nos quisermos frios, temos que continuar esse caminho humanizado, repleto de afectos e assente na inteligência emocional.

Este caminho não é fácil. A ambição cega-nos! O respeito comum quebra-se com facilidade se estivermos sempre em competição com os outros e até connosco, sempre que tivermos que enfrentar os nossos demónios. Santo Agostinho disse-nos que não há lugar para a sabedoria onde não há paciência. Isaac Newton, a quem recorro tantas vezes para ilustrar pensamentos livres, reconheceu sempre que as descobertas mais valiosas que fez aconteceram por ter paciência, mais do que por qualquer outro talento.

Saibamos acompanhar os mestres, estes e outros que aqui não cabem, para nos dedicarmos a essa safra da paciência, contendo os nossos ímpetos e regulando todas as nossas cóleras, para que a sabedoria emane na construção de caminhos mais humanizados e portanto mais felizes. De vez em quando ouvimos dizer que este ou aquele perdeu a paciência. Ou que não temos paciência para isto e para aquilo. Na verdade, devemos ter paciência e cultivar essa qualidade tão extraordinária, especialmente quando as nuvens cinzentas da intolerância e do respeito pelo outro se quiserem apoderar de nós. Resistimos e persistimos. Sabemos que esse é o caminho.

Não é fácil seguir nele sem nos desviarmos das tentações de cada momento. Mas são justamente as contrariedades que nos põem à prova. São elas que nos fazem limar as nossas arestas para nos aperfeiçoarmos em melhores seres humanos que sabem da finitude da vida e, por isso, a aproveitam a cada instante que passa. A paciência é a arte de saber esperar mesmo quando já não se espera que nada aconteça. Espera-se, simplesmente, na quietude e na contemplação da natureza que nos dá lições todos os dias.

Tudo floresce e regenera se soubermos ter a paciência necessária para semearmos mesmo sabendo que nem sempre vamos colher o que semeámos. Mas importante do que o resultado da colheita é a arte de sabermos aperfeiçoar a técnica da sementeira. Haja paciência para sabermos lidar com todos os que não a têm. Haja luz para iluminarmos o caminho, o nosso e o dos outros.

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