, 28 de abril de 2024
Volver Salamanca RTV al Día
Quando o nada acontece
X

Quando o nada acontece

Actualizado 04/06/2023 09:13
Miguel Nascimento

Há dias, numa geografia distante mas próxima, um placa afixada na parede exterior de uma casa tinha a seguinte inscrição: “ICI le 17 avril 1891 iil ne se passa strictemen RIEN”. Fitei a placa aparentemente enigmática e deixei-me rir, levado pelo ambiente construído pelas pessoas à minha volta que apenas desejavam estar ali onde não se passava absolutamente nada. Às vezes desejamos que na nossa vida se passe tudo quando, na verdade, devíamos desejar que não se passasse nada. É justamente quando não acontece nada que acontece tudo. É também nesses instantes que nos sentimos livres, sem o peso de tudo para vivermos o nada. Aliás, Guimarães Rosa disse-nos, a este propósito, o seguinte:“quando nada acontece, há um milagre que não estamos a ver.” Nada, é preciso não haver nada, não se passar nada, para que tudo aconteça em nós. Deixamo-nos levar pelo nada que acontece para sermos, por inteiro, tudo o que devemos ser. Entretanto a brisa leve que nos sopra no rosto diz-nos que os dias largos estão a chegar e que é tempo de esticarmos, sem esforço, a latitude da nossa alma para que o nada se transforme em luz, em inspiração para o caminho. Andamos como muitas coisas entre mãos. É isto e aquilo. São os prazos e mais não sei o quê. Não temos tempo para nada porque andamos ocupados com tudo. Mas, de repente, como se a vida nos quisesse avisar, vamos ao encontro do nada para termos tudo. Nessa linha ténue, quase imperceptível, em que passamos transitoriamente para a geografia do nada, onde não se passa absolutamente nada, percebemos melhor a importância do tempo e todo o significado que ele encerra. Quando nada acontece há milagres que se impõem de forma tão natural como evidente. Não precisamos de ter fé porque eles acontecem à nossa frente. Basta que nos deixemos levar pela brisa que sopra de feição exactamente na mesmo proporção dos nossos desejos. E como não desejamos nada, nada acontece apesar de estarmos ali, expectantes mas absolutamente tranquilos. O nada que nos faz rir como expressão de uma forma de vida feita de humor e leveza, é o mesmo nada que nos faz reflectir sobre os caminhos andados. Na verdade, temos que contemplar os momentos em que não se passa nada para nos equilibrarmos com todos os outros em que corremos de um lado para o outro sem termos tempo para nada e sem sabermos muito bem para quê. Afinal o nada pode mesmo ser tudo se soubermos abraçar a vida como ela deve ser abraçada.

La empresa Diario de Salamanca S.L, No nos hacemos responsables de ninguna de las informaciones, opiniones y conceptos que se emitan o publiquen, por los columnistas que en su sección de opinión realizan su intervención, así como de la imagen que los mismos envían.

Serán única y exclusivamente responsable el columnista que haga uso de nuestros servicios y enlaces.

La publicación por SALAMANCARTVALDIA de los artículos de opinión no implica la existencia de relación alguna entre nuestra empresa y columnista, como tampoco la aceptación y aprobación por nuestra parte de los contenidos, siendo su el interviniente el único responsable de los mismos.

En este sentido, si tiene conocimiento efectivo de la ilicitud de las opiniones o imágenes utilizadas por alguno de ellos, agradeceremos que nos lo comunique inmediatamente para que procedamos a deshabilitar el enlace de acceso a la misma.