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Break on trough to the other side
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Break on trough to the other side

Actualizado 26/02/2023 08:38
Miguel Nascimento

Há dias, sem esperar, a frase que dá título ao texto sentou-se à minha frente. Fitou-me com insistência e obrigou-me a reflectir sobre ela. De imediato abriram-se as gavetas da minha juventude onde, vezes sem conta, entoei esta frase ao ritmo dos Doors do grande Jim Morrison, procurando nesse tempo de liberdade infinita atravessar para o outro lado. Foi uma boa surpresa e uma recordação agradável de um tempo vivido com a intensidade, com dias que destroem a noite e noites que dividem os dias. Passados muitos anos e longe, muito longe, desse rock que deambulava entre o jazz e a bossa nova, dou por mim a pensar num tempo ritmado repleto de encanto e de transcendência tão inocente quanto jovial. Na juventude atravessamos muitas vezes para o outro lado. Depois regressamos para o porto seguro. E o tempo vai-nos amarrando às margens da serenidade, do equilíbrio e da ponderação. Porém a vontade de break on trough está sempre lá, meio adormecida, até que uma razão substantiva a desperte. Aldous Huxley que, em muitos outros admiráveis mundos, inspirou a banda com as suas portas da percepção e alertou-nos para o funcionamento da nossa mente, assinalando o enorme desejo de transcendência do ser humano. Ainda bem que o nosso cérebro se amarra a filtros para que nem tudo seja conscientemente absorvido. Caso contrário explodiríamos com tanta informação. Mas, de vez em quando, temos que abrir as portas da percepção para nos deixarmos levar pela vida e, digo eu , sem necessidade das experiências de efeitos libertadores a que Huxley se submeteu para as estudar. O tempo é finito e a nossa existência tem limitações comunitárias e individuais que nos impomos para não nos desviarmos muito dos caminhos em que todos seguimos. Porém, quando a monotonia se instala e as regras estabelecidas apertam em demasia, temos que ter a coragem de atravessar, com tudo, para o outro lado. Temos que comprar um bilhete de ida sem pensarmos no regresso, mesmo que depois voltemos à casa comum, quando as flores do mal se deixarem dividir entre dias e noites sem fim. Seguimos viagem em linha recta com os outros. Fitamos os olhos no carril que nos leva à próxima estação. Mas, por vezes, é na viagem que descobrimos o caminho do nosso destino. É também por isso que devemos atravessar para o outro lado as vezes que forem necessárias para sermos felizes. Escuto a batida forte e ritmada de Ray Manzarek e a voz profunda de Jim Morisson, enquanto me preparo para break on trough to the other side. Também quero encontrar uma ilha nos teus braços e um país nos teus olhos. Sim, vamos com tudo para o outro lado para vermos se isto aqui mexe alguma coisa.

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