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O apocalipse das formigas
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O apocalipse das formigas

Actualizado 22/05/2022 10:37
Miguel Nascimento

O APOCALIPSE DAS FORMIGAS

Há dias deparei-me com um cartaz que dizia, através de caracteres bem sublinhados, o seguinte: “Por favor não coma dentro da biblioteca.” Mais abaixo, no mesmo cartaz, em caracteres idênticos aos das bulas dos medicamentos, vinha a explicação científica da afirmação citada: “As formigas vão aparecer e aprender a ler e ficarão muito inteligentes. Conhecimento é poder, mas poder corrompe, então se tornarão malignas e dominarão o mundo.” Depois da obrigatória iconografia do “carreiro”, o cartaz fechava a mensagem com o derradeiro apelo: “Salve o mundo do apocalipse das formigas.” Gostei do cartaz e da mensagem. Faço, desde já, uma declaração de interesses: não tenho o costume de comer nas bibliotecas. Utilizo as salas de leitura para a sua função principal. Mas não tenha nada contra quem tem que comer, porque não tem tempo ou porque não pode perder tempo enquanto trabalha nas literaturas à disposição. Talvez não se deva comer nas bibliotecas, digo eu. Mas o acto também não deve ser proíbido desde que o mesmo se faça com sentido hogiénico, sem perburbar os outros, evitando assim desfalecimentos e outros males maiores. Independentemente da ideia de cada um sobre esta interessante temática, a verdade é que o cartaz tem, pelo menos para mim, alguma piada. A comunicação das mensagens sempre foi forte na utilização dos canais do humor e da boa disposição. É essencialmente isto o que nos oferece este cartaz. A partir daqui não podemos comer uma maçã ou uma sandes crocante sem pensarmos nas formigas e no seu domínio do mundo a partir de uma biblioteca e outros locais de cuolto similares. A biblioteca objecto desta mensagem traça uma linha muito ténue que separa (ou não) as formigas dos homens e os homens das formigas. Na verdade, o cosmos conecta-nos de forma indelével, através de elos por nós formados, mesmo que não tenhamos consciência dessa circunstância. A natureza envolve-nos a todo o instante com o seu abraço fraternal. Neste sentido, a distância que nos separa da formiga é exactamente a mesma que nos une. O grande José Saramago vislumbrou, entre muitas outras coisas, o caminho desta extraordinária conexão, escrevendo que “(…) não há diferença nenhuma entre cem homens e cem formigas, leva-se isso daqui para ali porque as forças não dão para mais, e depois vem outro homem que transportará a carga até à próxima formiga, até que, como de costume, tudo termina num buraco, no caso das formigas lugar de vida, no caso dos homens lugar de morte, como se vê não há diferença nenhuma.” Na mesma linha e encadeando outro raciocínio, julgo que os livros, para muitos, continuam a ser elementos perigosos porque iluminam e conduzem a pensamentos livres. Por isso, tantos foram queimados e destruídos ao longo dos tempos, tanto na antiguidade como agora. Cuidado, muito cuidado, com as formigas e com os homens que gostam de aprender nas bibliotecas e fora delas, uma vez que o conhecimento é poder e o poder pode desencadear um apocalipse da sabedoria.

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