Miércoles, 24 de abril de 2024
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O tempo encardido
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O tempo encardido

Actualizado 20/03/2022 09:38
Miguel Nascimento

Há dias a península ibérica foi envolvida num manto de poeira alaranjada que disseminou sujidade e provocou um ambiente quase apocalíptico em função da complexa conjuntura da actualidade. A este propósito o conhecido radialista Nuno Markl disse numa antena de grande audiência que “vivemos um tempo encardido.” Há muito que não escutava esta expressão gravada nas geografias da minha adolescência e juventude. Nesse tempo como agora os encardidos estavam sujos, imundos. Quando jogávamos à bola em campos de terra lamacenta ficávamos todos encardidos, repletos de sujidade que saía com água e sabão. Julgo, salvo melhor opinião, que o conhecido radialista não se referia a este tipo de sujidade, mas a outra mais densa, aquela que não sai nem depois de muito se esfregar com água e sabão. A partir das poeiras do Saara todos podemos, infelizmente, identificar a sujidade na cabeça dos senhores da guerra que agora pintam a nossa Europa das liberdades com o sangue de milhares de vítimas inocentes. Na verdade parece que há dois anos entrámos num túnel escuro e sombrio por onde ainda fazemos passar as nossas vidas em absoluta intranquilidade e inquietação. No início da pandemia repetíamos quase com sentido frenético a frase “vai ficar tudo bem” para nos mentalizarmos que a humanidade sairia mais forte deste momento difícil. Entre as diversas vagas da pandemia ouvíamos em todo o lado que esta era a grande oportunidade para a humanidade se reinventar e que a partir de aqui seríamos mais amigos uns dos outros. Afinal foi tudo ao contrário. A pandemia ainda não acabou. Tarda em deixar-nos. Continuam a morrer demasiadas pessoas apesar de todos os progressos da ciência. Ainda atónitos com esta crise pandémica rebenta a guerra na Europa com a Rússia a invadir a Ucrânia e a provocar um tsunami de mortos e de destruição generalizada, com milhões de refugiados. Na verdade, não aprendemos nada com os erros que a história nos dá conta. Continuamos a matar-nos neste tempo poeirento e encardido. Enquanto os encardidos tiverem liberdade para darem expressão à sujidade nunca estaremos livres das trevas e do tempo encardido povoado por gente sem alma nem coração. A poeira rouba-nos a visão e a clareza do caminho. É aí que os encardidos jogam para construírem os seus templos de sujidade onde se sentam sem pensarem em mais nada para além do culto do seu ego e mesquinhez. Infelizmente esta sujidade encardida não sai com água e sabão.

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