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O campo inclinado
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O campo inclinado

Actualizado 05/09/2021
Miguel Nascimento

O campo inclinado  | Imagen 1

Na minha juventude jogava futebol com os meus amigos num campo inclinado. Na falta de infra-estruturas desportivas aproveitávamos a disponibilidade de uma "carreira de tiro " militar abandonada para a transformarmos num campo de futebol que batizámos de "estádio do brugo" devido às intermináveis filas de brugos que saiam dos pinhais laterais do famoso rectângulo de jogo da bola. Os postes das balizas não existiam. Árbitros também não. Era o bom senso de todos que ditava as leis do jogo. E todos acatavam as decisões comuns. Ninguém se zangava. O futebol era para nós uma festa! O momento inicial do jogo era o mais importante: era aí que se definia quem jogava de baixo para cima na primeira metade do encontro. Todos sabíamos da exigência de jogar em campo inclinado. O esforço físico era maior e o desgaste era proporcional à inclinação (própria de uma carreira de tiro). Portanto ninguém queria jogar em desvantagem. Mas a moeda ao ar selava o destino. E a equipa que calhava na parte inferior do campo sabia, à partida, que tinha que se superar para nivelar o que era desigual. Isso era respeitado por todos, a começar pela equipa adversária que tinha a vantagem de iniciar a partir de cima. Recordando esses tempos extraordinários da minha juventude percebo melhor todas as entradas que tive que fazer pela parte de baixo do campo inclinado em que, por vezes, a nossa vida se transforma. Não por escolha mas porque, simplesmente, o destino jogado através de moeda ao ar assim ditou. Mas isso não é, não foi e nunca erá um problema. Antes pelo contrário. Jogar ou viver num campo inclinado reforça a nossa capacidade de resistir e de ultrapassar dificuldades. No campo da bola ou na vida, independentemente das circunstâncias de cada momento, não nos podemos afastar do que é essencial. E isso passa por marcarmos golos, divertirmo-nos com a nossa equipa e ao mesmos tempo fazermos tudo o que está ao nosso alcance para nivelarmos o campo do nosso jogo. Às vezes não interessa como o jogo começa mas como acaba. Há muitos anos, no nosso "estádio do brugo" os jogos eram disputadíssimos e a "batalha" campal era levada quase até à exaustão. Mas depois do apito final imaginário e independentemente do peso do campo inclinado no resultado o que interessava era a amizade e o abraço fraterno final que a todos enchia de luz e alegria. A vida, para mim, também é assim. Posso iniciar um jogo a partir de um campo inclinado, não sei se vou ganhar ou perder, sei apenas que a minha vitória só se pode alcançar se, durante o tempo do encontro, for fiel aos meus ideais e compromissos, comigo e com os que jogam na minha equipa, respeitando sempre os adversários que nos calharem. A beleza de uma disputa reside no respeito pelas diferenças e na cumplicidade gerada no processo de superação das dificuldades. E quando assim é tudo parece uma festa mesmo num campo e inclinado.

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