Vivemos tempos difíceis, conturbados e estranhos. A natureza das coisas que temos pela frente exige de nós mais do que, provavelmente, podemos dar, pelo menos numa primeira abordagem. A recente pandemia que se instalou no mundo, agora com epicentro na Europa, é um sinal dos novos cenários que atravessamos no meio de uma imensa inquietação, na medida em que não temos a certeza do caminho e do chão que pisamos. Depois de muitas catástrofes e guerras, depois de muitos avanços científicos e tecnológicos em diversas frentes, vivemos agora com o pânico da desinformação, apesar de termos acesso, simples e rápido, a múltiplos canais de comunicação. O coronavírus arrastou-nos para uma guerra muito violenta, de contornos quase apocalípticos, que está a colocar-nos à prova; num primeiro patamar pela sobrevivência e, num segundo, pela sobrevivência do significado de comunidade num território onde o individualismo tem vindo a reinar como sabemos. São tempos duros e confusos, repletos de caminhos contraditórios, que exigem o melhor de nós no sentido de, através da nossa individualidade, protegermos o colectivo e, através do forte sentido de comunidade, protegermos e salvaguardarmos o individuo. É nesta relação que (se deseja cada vez mais estreita) agora, mais do que nunca, depositamos a esperança no futuro da humanidade. Todos temos que agir com responsabilidade, sem alarmismos e com absoluta confiança nas autoridades. Confiança e compromisso, connosco e com os outros, são as chaves para o regresso à normalidade da vida que corre todos os dias sem que nos possamos dar conta que a nossa existência é feita de uma imensa fragilidade. Neste sentido, este é também o tempo da democracia e do respeito pelas normas e formas de vida em comum, em comunidade. É neste tempo exigente que temos que ser exigentes connosco e com os outros para conseguirmos sublinhar a nossa responsabilidade individual e colectiva. Só em conjugação de esforços conseguiremos parar, com a maior brevidade possível, a hemorragia que nos está a atingir para, depois de a isolarmos, a combatermos com eficácia. O coronavirus é o novo inimigo do futuro. Outros se seguirão. São fortes os sinais que nos chegam pela via da modernidade, ampliada a cada instante nesta grande aldeia global. E quando isso acontece diante dos nossos olhos e confrontados com a nossa quase impotência face ao desconhecido, só temos que ser exigentes connosco e dar tudo o que temos e podemos para resguardamos a nossa comunidade e a essência da nossa humana condição, salvando o máximo de vidas que pudermos. A natureza das coisas tem a força que tem. A realidade da pandemia acelera tudo o que imaginamos e também o que nunca sequer sonhámos. Por isso, é tempo de actuarmos e de aprendermos com esta grande dificuldade que se abateu sobre nós para que, no futuro que desejamos breve, voltarmos a dar valor às coisas simples da vida, como um beijo ou um abraço caloroso e fraterno. Saibamos estar à altura dos tempos com que a realidade agora nos confronta para que, em verdadeira comunidade (como sempre aconteceu ao longo da nossa história colectiva) superarmos mais uma grande dificuldade. Para que o sol brilhe de novo precisamos do maior recato e recolhimento e, ao mesmo tempo, de estender a mão para ajudar quem precisa. Ninguém pode ficar para trás. Esta urgência convocou-nos a todos e pediu-nos exigência, compromisso e sabedoria e também um coração cheio de solidariedade.
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