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Está provado, quem espera nunca alcança.
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Está provado, quem espera nunca alcança.

Actualizado 17/03/2019
Miguel Nascimento

Ouça um bom conselho / Que eu lhe dou de graça / Inútil dormir que a dor não passa / Espere sentado / Ou você se cansa / Está provado, quem espera nunca alcança. Chico Buarque

Está provado, quem espera nunca alcança. | Imagen 1

A sabedoria popular diz-nos, desde há muito, que "quem espera sempre alcança." As situações que se repetem ao longo dos tempos ajudam a confirmar o saber das frases que expressam a experiência e o peso dos anos nas pessoas e nas comunidades que habitam. Há coisas que se dizem e fazem como se de rituais se tratassem e que são passadas de geração em geração. Este contexto da sabedoria popular apela à nossa paciência e à nossa capacidade para serenarmos os nossos ânimos para desenvolvermos a "arte da espera". Na sabedoria popular este é um bom caminho para alcançarmos o que desejamos para nós e para os mais próximos. O saber esperar é também apresentado como uma grande virtude que devemos cultivar. Porém, entre o saber esperar pelo que pode acontecer (se esperarmos com infinita paciência) e o fazer acontecer as coisas vai uma grande distância. Há quem espere uma vida inteira pelo que nunca virá a acontecer. Sempre com uma paciência infinita! E há também os que não esperam por nada, procurando fazer acontecer. Julgo que os dois caminhos estão certos. Tudo depende do que valorizamos mais em cada momento do nosso trajecto. Aí, no meio de ponte de todos os pensamentos e emoções, temos que aferir se valorizamos mais a nossa capacidade para desenvolvermos competências pessoais que exigem tempo e treino ou se valorizamos mais a necessidade de resultados e de fazermos acontecer, pelo menos num tempo mais curto do que a previsível e incontável espera prolongada. A este propósito o grande Chico Buarque dá-nos um bom conselho: "está provado, quem espera nunca alcança." Este é, na verdade, um bom e inquietante conselho. Não é para todos. Não está ao alcance de todos. É apenas para os que se inquietam e para os que não esperam que a tempestade passe. É para os que vão para o meio da tempestade e para os que dão a cara pelas coisas. É os que dão o peito às balas pelas suas ideias e ideais. Não é para os que se escondem nos arbustos enquanto outros morrem fazendo as revoluções. Chico Buarque canta-nos que é inútil dormir porque a dor não passa e que é preciso fazer ainda antes de pensar e também que é preciso semear o vento e correr atrás do tempo porque "devagar não se vai ao longe". Naturalmente, tudo isto é discutível. O esperar pacientemente e o fazer repentinamente são faces da mesma moeda. Por isso, talvez possamos cruzar os dois caminhos para obtermos uma lucidez maior que nos permita alcançar os equilíbrios na viagem que fazemos. Mas, por vezes, os equilíbrios não devem ser procurados apenas para não serem encontrados. Às vezes é melhor fazer, repentinamente, ou esperar, pacientemente. Não podemos ficar entre uma coisa e outra. Há momentos em que não se pode esperar, nem com toda a paciência do mundo, treinada até à exaustão nos longos tempos de espera. Há momentos em que é preciso fazer, deixando que a emoção tome conta de nós, sobretudo se fizermos pela nossa felicidade pela dos que nos rodeiam. Há momentos em que é preciso fazer com o coração e não com a cabeça, na medida em que o pensamento dos prós e dos contras de qualquer coisa pode tolher os movimentos. Há momentos em que devemos deixar o regaço da nossa comodidade para sofrermos na pele as consequências das coisas em que acreditamos. Também podemos esperar e esperar muito até que o cosmos alinhe os seus astros. Ao esperarmos até que as coisas aconteçam estamos também a seguir um caminho, nada fácil, no sentido do aperfeiçoamento da nossa condição interior. Porém, se esperarmos muito não podemos exigir resultados imediatos. Apenas podemos esperar o melhor de nós e que o tempo nos traga, quando entender, algo mais do que a previsível velhice. E se esperarmos muito podemos melhorar muito também, por fora e por dentro, mas talvez deixemos passar uma vida entre os dedos da mão, mesmo que à nossa espera esteja esse elevado grau da mestria da paciência. Se fizermos e não esperarmos nada talvez não passemos nunca de uma aprendizagem básica com pouca constância de sabedoria. Mas, se fizermos, seremos príncipes das emoções e reis de todas as coisas do coração. Seremos senhores do destino que destinamos com a nossa vontade de fazer. Aí, nesse instante, alcançaremos porque não esperámos!

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