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A beleza da simplicidade
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A beleza da simplicidade

Actualizado 16/12/2018
Miguel Nascimento

A beleza da simplicidade | Imagen 1

Ando pela rua e contemplo as luzes. Já cheira a Natal. Tudo fica engalanado. Iluminado. Com brilho! As lojas anseiam pelo negócio. É legítimo! Os compradores espreitam as montras. Uns compram outros não! Outros ainda, passeiam entre as luzes e as montras. Encontram-se com amigos, com conhecidos e com gente que passa. O frio recomenda aconchego. O espírito do Natal empresta-nos a rua. O espaço de todos. A disposição para o convívio. Para um abraço. Para um café, um chá ou um copo de vinho! Entre passeios, travessias e percursos rituais ou ocasionais o comércio e a pressão do consumo assumem grande prioridade. Uns compram e outros não! Cada um tem as suas possibilidades. Os seus limites e a consciência da dimensão da sua bolsa. O Natal é também o tempo dos presentes, do consumo e da vontade de dar e receber em conformidade com a bolsa e disponibilidade de cada um. Olhar para as montras é um regalo! Percorrer as ruas é um bálsamo! O espírito do Natal anda por aí, à solta! Mas nem tudo começa e acaba nos presentes, nas compras e nas ruas engalanadas. Este é também o tempo dos afectos, dos abraços e da genuinidade sem fim. As luzes que piscam nas suas intermitências ajudam-nos a convocar o melhor de nós. Nem sempre despoletam o nosso lado material. Por vezes, indicam-nos o caminho espiritual e convocam-nos para a dimensão da proximidade e das coisas simples do dia-a-dia que nos tocam ao coração. Há dias, a troca de palavras de uma conversa banal levou-me para dentro de uma história que me tocou de forma especial. O contexto era rotineiro e usual. Alguém precisava de cópias de um documento para distribuir a estudantes. Era uma mulher, professora de nível académico e repleta de experiência de vida. Essa mulher, essa professora, entrou num centro de cópias para cumprir o seu objectivo material, prático e rotineiro. Quando entrou no estabelecimento percebeu que o operador de reprografia estava a ouvir e a deliciar-se com músicas de Freddie Mercury, precisamente os temas que marcaram a sua juventude. A química foi imediata! A partilha do mesmo gosto musical propiciava uma base de diálogo mesmo neste tempo frio de Dezembro em que cada um, apesar do enquadramento natalício, segue a sua vida de correrias sem fim e de forma quase mecânica. Os minutos que se seguiram foram de escuta e de diálogo. A música de Freddie Mercury dava o mote para partilhas de tempos, espaços e memórias. Aqui, neste hiato, a professora e o operador de reprografia, concentraram-se apenas na sua dimensão humana, na partilha de vivências e nos gostos musicais que tinham em comum. Aqui, as circunstâncias de cada um não eram importantes. Aqui, neste tempo de pausa, apenas a comunhão de interesses e de afectos importava. Entretanto, os dois trocaram palavras doces, de memória e de evocação de um tempo vivido. Nenhum deles se esqueceu do seu propósito. As cópias foram tiradas. As contas foram feitas e o pagamento efectuado. No final desta cena improvável, o operador, com a voz embargada, perguntou à professora se lhe podia dar um abraço. A professora disse-lhe, de imediato, que sim. Deram um longo abraço! O homem tremia de emoção e as lágrimas escorriam-lhe pelo rosto enquanto balbuciava, com dificuldade, um agradecimento pela forma como a professora se tinha dirigido a ele? dizendo que em muitos anos de profissão nunca ninguém lhe tinha dedicado tanta atenção. Nesse momento mágico, as lágrimas também corriam pelo rosto da professora que, incrédula, abraçava ainda com mais força este seu interlocutor musical improvável e operador de reprografia. Despediram-se num instante, cruzando olhares entre luzes que piscavam no meio da rua repleta de gente. Ali, naquele momento, naquele abraço humanista entre os dois fez-se magia de Natal. Não sabemos as histórias que estão sob a pele daquele homem, operador de reprografia, que se sensibilizou com o humanismo de uma professora. Sabemos apenas que a simplicidade deste exemplo nos convoca para fazermos mais pelos outros, para estarmos mais atentos e disponíveis para dar mos afecto sem esperarmos nada de volta. Neste tempo de luzes intermitentes que o Natal sempre nos traz devemos procurar, através de gestos simples e genuínos, aumentar a intensidade da luz que vive dentro do nosso coração! Esta é a beleza maior da simplicidade! Sim, uns compram e outros não!

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