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A vida é dura para quem é mole.
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A vida é dura para quem é mole.

Actualizado 17/09/2017
Miguel Nascimiento

A vida é dura para quem é mole. | Imagen 1

Há dias entrei numa taberna, lugar mágico e alquímico. Contemplando as quatro paredes deste lugar, evocador de memórias e de afectos, deparo-me com uma breve colecção de inscrições que reproduziam, em azulejo branco e azul, a sabedoria popular e a ancestralidade dos usos e costumes da nossa lusa comunidade. Fixo o meu olhar num azulejo ao centro que dizia o seguinte: "A vida é dura para quem é mole." Percebe-se o recado porque é simples e objectivo. Mas, apesar disso, fiquei sem saber é era para levar o recado à letra antes ou depois de beber um par de tintos. Entre muitas dúvidas e poucas certezas a reflexão seguiu caminho próprio. De imediato surgiu outra questão: se as coisas são assim como nos indica o azulejo branco e azul no centro da Taberna será que devemos ser duros para que a vida seja mole connosco? A vida é dura, vamos percebendo isso à medida que seguimos caminho e contamos os anos que passam por nós. Ao contornarmos o tempo vamos perdendo umas coisas e ganhando outras. Há gente do coração que vai saindo do nosso horizonte visual mas não do nosso pensamento e afecto. Vão partindo, pronto! Fica a dor, a lembrança e a dureza da vida. E nós vamos ficando mais pobres. Para estas evidências da dureza da vida não contam os nossos posicionamentos individuais, nomeadamente se somos duros ou moles. O que acontece é o destino. É o que tem que acontecer, apesar de todas as nossas energias e pensamentos. Olho outra vez para o azulejo branco e azul e percebo que neste particular a coisa não encaixa. Mas, sigo o caminho tentando acompanhar a mensagem. Quando somos jovens o impossível parece uma palavra que não existe no nosso léxico. Depois, quando o sol já se pôs muitas vezes os nossos sonhos e esperanças vão dando lugar a impossíveis fossilizados e a lugares de nada. Sim, aí percebemos que a vida é dura ou foi sendo dura. Mas, será que não aconteceram as coisas que queríamos porque fomos moles? Não sabemos nem nunca saberemos, julgo eu. Há coisas que não dependem de nós, das nossas opiniões e dos nossos posicionamentos, sejam eles duros ou moles. Olhando de novo para o azulejo e continuando a alimentar deste diálogo interno a partir de uma frase colocada no centro de uma Taberna percebo que não podemos ser moles ao ponto de nos deixarmos ludibriar por aqueles que, sentindo alguma espécie de fraqueza, rapidamente galgam o terreno todo para o ocuparem com a sua dureza implacável. Esses cantam vitoriosos quando, matreiramente, ganham pontos sobres as fraquezas dos outros. Mas, tais cantorias são como castelos cartas que caem ao menor sopro. Não valem nada. Não prestam. Cheiram a mofo! Volto a beber um tinto e fito o azulejo, de novo. Ele não diz mais do que óbvio, nomeadamente em lugares onde, tantas vezes, o vinho liberta mas também enfraquece porque expõe e fragiliza. Mais uma vez a sabedoria das coisas está no meio, no equilíbrio e na ponderação. Ou seja, não bebas demais para não dizeres e fazeres o que não queres. Não confies demasiado para que não se aproveitem de ti. São sejas duro nem mole. Promove equilíbrios. Saboreia a vida com todos os prazeres que ela te pode dar. Não sejas herói nem vilão. Sê igual a ti próprio e segue o teu caminho. Sobe e desce a montanha. Chora e ri em função das circunstâncias! Sê autêntico e genuíno! Abraça e deixa que te abracem. Beija e deixa que te beijem! Ama como se não houvesse amanhã. Deixa que te amem como se não houvesse amanhã. Vive e volta sempre à Taberna, esse lugar mágico e alquímico, para olhares para todos os dizeres dos azulejos como se estivesses a folhear o enorme livro da sabedoria da comunidade a que pertences. Aprende e ensina. Deixa que te ensinem. Deixa-te ir, deixa-te aprender e que te aprendam. Bebe do cálice da vida e deixa escorrer a seiva que nos alimenta todos os dias. Deixa que a esperança que se renove a cada dia que passa, apesar de todas as circunstâncias. Semeia para colheres. Semeia amizade. Colhe o que semeaste! Volta sempre à Taberna, leva os teus amigos e convive com eles. Bebam em conjunto uns tintos e celebrem a amizade, a paz e a fraternidade. Copos ao alto para que a vida seja feliz! Mas, entretanto, vai olhando para os azulejos. Interpreta os seus sinais. Não sejas duro nem mole. Sê equilibrado e, sobretudo, feliz! Apanha sempre o comboio da felicidade e leva os teus amigos! Vai, faz a viagem com eles! Abraça-os e deixa que te abracem. Promove a cumplicidade! Confia, entrega-te e vive!

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