"Cais, às vezes, afundas / em teu fosso de silêncio, / em teu abismo de orgulhosa cólera, / e mal consegues / voltar, trazendo restos / do que achaste / pelas profunduras da tua existência." Pablo Neruda
Ninguém gosta do fundo do poço. Ninguém gosta de cair num lugar absolutamente indesejável. Num espaço frio, bolorento e escuro. O fundo do poço é um lugar limite das nossas fraquezas e das nossas debilidades. Não se chega lá através de escadas e afins. Chega-se àquele lugar sombrio em queda livre! E todos podemos cair nesse lugar! Uns caem e já não conseguem sair. Outros caem nessa escuridão e conseguem limpar a mente e despojar-se de tudo o que não precisam para regressarem à superfície. Para alguns o fundo do poço é o limite máximo da profundidade da nossa decadência e descredibilização. Para outros, a profundidade pode sempre ser continuada na medida em que a seguir ao fundo do poço há sempre um ralo que leva ao esgoto e a um subsolo ainda mais profundo, mais triste e humilhante. Mas, o fundo do poço assume também diversos contornos em função de personalidade de cada um e da cultura de um povo. Para uns o poço tem pouca profundidade. Para outros, o fundo do poço é como um poço sem fundo que chega a todos os infernos. Independentemente da medida de cada um para os limites do fundo do poço a grande verdade é que todos podemos cair nesse lugar indesejável, frio e sombrio. A vida coloca-nos à prova. Exige muito de nós. E quando caminhamos há sempre quem nos queira derrubar para não chegarmos ao nosso destino. A vida desafia-nos a toda a hora e nem sempre estamos à altura do desafio. No nosso caminho caímos e levantamo-nos muitas vezes. Mas, pode haver um dia, uma semana, uma temporada em que o vendaval da adversidade é tão forte e intenso que nos atira para o fundo do poço e, por vezes, para a profundidade mais escura, fria e bolorenta. Se tivermos o infortúnio de mergulhar nessa escuridão sentimo-nos aprisionados e sem soluções que respondam aos exercícios e actividades que sempre fizemos. Sentimos que não existem saídas e que tudo está perdido! E quem cai no fundo do poço apenas tem um desejo: sair de lá! Nesse momento fazemos tudo o que nunca fizemos para sairmos daquela situação. Vamos buscar forças onde julgávamos que elas não existiam. Descobrimos e redescobrimos coisas em nós. Aprendemos connosco. Escutamo-nos Limpamo-nos das nossas angústias e libertamo-nos do lixo que carregamos durante anos. Reinventamo-nos! Transformamo-nos naquilo que sempre fomos mas que na verdade não conseguíamos ver porque estávamos demasiado ocupados a andar de um lado para o outro e a correr para parte nenhuma e também a contribuir para objectivos sem sentido! Por muito doloroso que seja não precisamos de ter pressa em sair desse lugar. Muito menos sem aprendermos as lições que temos que aprender. Nesse momento e nesse tempo devemos olhar para o nosso lado de dentro para aprendermos o que temos para nos ensinar. A famosa autora do grande sucesso que é a saga Harry Potter, JK Rowling, disse que "chegar ao fundo do poço tornou-se a base sólida sobre a qual eu reconstruí a minha vida." Sim, na verdade, muitos reconstruíram a sua vida depois de chegarem ao fundo do poço. Metamorfosearam-se e venceram a maioria dos seus demónios! O grande Walt Disney chegou a viver nas ruas. Não deixou, por isso, de se transformar num gigante eterno e numa fonte de inspiração incomensurável. Steve Jobs foi dispensado da sua própria empresa e não deixou, por isso, de ser a referência que sempre foi e será para todos nós e para o mundo inteiro. No palco da vida há muitas histórias de superação e grandes exemplos de afecto, coragem e determinação. Como é evidente, há sempre aqueles que caindo no poço não conseguem sair de lá a não ser pela via da viagem eterna. Outros vão ainda mais fundo e percorrem o cano do esgoto. Mas, aqueles que conseguem ver-se com olhos de ver ficam mais fortes e ajudam-nos a não cair nesse lugar frio e sombrio, nesse poço de que nos falava Pablo Neruda: "Cais, às vezes, afundas / em teu fosso de silêncio, / em teu abismo de orgulhosa cólera, / e mal consegues / voltar, trazendo restos / do que achaste / pelas profunduras da tua existência." Por isso, se de vez em quando pensarmos no que significa o fundo do poço para cada um de nós talvez tenhamos a oportunidade de reflectir sobre a necessidade de mudarmos o que deve ser mudado e de fortalecermos o que deve ser fortalecido para nunca mergulharmos na escuridão profunda e sombria. Às vezes não mudamos por medo. E outras vezes o medo tolhe os nossos movimentos. Porém, no fundo do poço já não há mais nada para pensar a não ser sair dali depressa. O fundo do poço é, por muitas razões, um lugar (e um sinal) a que devemos prestar muita atenção, para não deixarmos nada por dizer e muito menos por fazer!
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