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TOLERARE
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TOLERARE

Actualizado 13/11/2016
Miguel Nascimiento

"Tenho pena que neste areal da vida, onde cada um segue o seu caminho, não haja nem tolerância nem humildade para respeitar o norte que o vizinho escolheu. " Miguel Torga

TOLERARE | Imagen 1

Uma das grandes virtudes do homem é ter a capacidade de tolerar. Na apologia desta grande virtude Miguel Torga disse-nos que "tinha pena que neste areal da vida, onde cada um segue o seu caminho, não haja nem tolerância nem humildade para respeitar o norte que o vizinho escolheu." Mas, como se tem observado, com maior acuidade nos últimos tempos, a intolerância está a ganhar espaço e tempo à humanidade, indicando-lhe o caminho do precipício. Porém, ser tolerante implica sempre um esforço maior, uma capacidade maior, para nos conseguirmos colocar na pele do outro e, às vezes, numa pele que está dentro de nós. Não podemos combater a intolerância com mais intolerância. Para isso é preciso termos paciência e sabedoria. Fernando Pessoa disse-nos para sermos tolerantes porque não temos a certeza de nada. É também por isso que não podemos aceitar os comportamentos daqueles que pretensamente para defenderem a tolerância são os mais intolerantes de todos. Esses são os que, em democracia, defendem a livre expressão e o livre pensamento dos outros desde que concordem com as suas ideias mais dogmáticas. Grassam por aí muitas figuras dessas, supostos democratas e campeões da tolerância. Enfim! A palavra latina "tolerare" tem uma força extraordinária e representa a nossa capacidade de suportar e aceitar coisas que, por vezes, estão para além do nosso domínio e do nosso padrão cultural. Há muitas formas de tolerância e outras tantas de intolerância. E ao contrário do que muitos julgam a tolerância e a intolerância são como duas faces da mesma moeda e estão intimamente interligadas. Às vezes somos tolerantes com os outros e intolerantes connosco. E também o seu contrário! Como nos disse Ghandi a "tolerância não significa aceitar o que se tolera". E, por outro lado, Umberto Eco disse-nos que para se "ser tolerante é preciso fixar os limites do intolerável". Ora, aqui está um campo por explorar, cujas balizas distam uma da outra a linha exacta constituída entre a tolerância e a intolerância que residem dentro de nós. Não podemos proclamar aos quatros ventos a tolerância quando somos os primeiros a fazer o seu contrário, principalmente quando pretendem invadir os domínios que julgamos nossos. Também não podemos ser eternamente tolerantes ao ponto de nos julgarem tolos. Há limites, como nos disse Umberto Eco. Mas, Agostinho da Silva foi mais longe: "entre as palavras e as ideias detesto esta: tolerância. É uma palavra das sociedades morais em face da imoralidade que utilizam. É uma ideia de desdém; parecendo celeste, é diabólica; é um revestimento de desprezo, com a agravante de muita gente que o enverga ficar com a convicção de que anda vestida de raios de sol." São palavras fortes que exigem o melhor de nós, pelo menos os que desejam que a tolerância seja a base do caminho. Mia Couto dá-nos pistas para a viagem: "dizemos que somos tolerantes com as diferenças. Mas ser-se tolerante é ainda insuficiente. É preciso aceitar que a maior parte das diferenças foi inventada e que o outro (o outro sexo, a outra raça, a outra etnia) existe sempre dentro de nós." A tolerância não pode ser uma espécie de vaidade, deverá ser humilde e genuína. A sua prática requer esforço e equilíbrio. E antes de tudo devemos começar por observar, e já agora compreender, os nossos limites da tolerância e da intolerância para, a partir daí, conseguirmos, de preferência, semear a tolerância, principalmente onde ela faz falta. Tolerar não significa aprovar. No mínimo, significa aceitar a diferença. Significa tolerare! Aquele que é tolerante nunca pode ser indiferente. Para sermos tolerantes precisamos de olhar para as coisas e para ideias de frente. Não podemos ignorar. Podemos não concordar. Mas, não podemos encolher os ombros e fazer de conta. Temos que encaixar tudo dentro de nós para verdadeiramente darmos força a esta palavra extraordinária que precisa de ganhar ainda mais força nestes tempos tão conturbados onde a indiferença e a intolerância ganham terreno neste plano inclinado para onde descem os valores que desde tempos muito antigos foram subindo a montanha da humanidade.

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