Não conhecemos o tempo da nossa vida. Ele pode ser curto ou longo. Não sabemos. É uma incógnita. Uma magia. Sabemos apenas que temos um caminho para trilhar. Muitas vezes não sabemos por onde começar. Sabemos apenas que temos de ir. O horizonte está sempre ao alcance da nossa mão. Mas nunca o alcançamos! É uma linha irrequieta! Na medida em avançamos ela afasta-se de nós. Mas, entretanto, indica-nos a geografia do nosso destino. Que é para aquelas bandas. Não sabemos o sítio certo. Mas é, mais ou menos, para ali que os nossos passos se dirigem. O caminho, como sabemos, está repleto de alegrias e tristezas. De momentos bons e maus. Subimos e descemos as montanhas vezes sem conta. Viver é isso! É meter a mão no saco de todas as emoções, as boas e as más. Cada um de nós interpreta a vida como entende. Cada um de nós dá o melhor de si para agarrar a vida com as duas mãos e aproveitar a sua intensidade. Não há uma regra que se adapte a cada um de nós, quais timoneiros do barco da nossa vida. Apenas queremos chegar à outra margem para podermos dizer, no ponto do destino, que apreciámos a viagem! Uns perdem-se na vida. Outros é a vida que os perde. Acontecem milagres e desgraças. Há de tudo no nosso caminho individual e colectivo. Essa é a grande riqueza da bruma dos tempos. Pelo meio do trajecto encontramos desafios e provas para superar. Por vezes, e a propósito deste ou daquele acontecimento, pensamos que temos uma missão a cumprir. O destino manda no nosso tempo. E nós condicionamos o destino com tudo o que pensamos e, sobretudo, o que fazemos. Traçamos objectivos e procuramos cumprir metas. A nossa vida é feita de ciclos. Entre a infância e a velhice alinhamos um conjunto de ciclos que se vão cumprindo com base no que é expectável. Estamos pouco preparados para a interrupção desses ciclos. Quando acontece alguma coisa na nossa vida com um sentido mais negativo manifestamos, de imediato, a nossa tendência natural para diabolizarmos isto ou aquilo e este ou aquele. Rogamos pragas ao destino e amaldiçoamos aqueles que estão contra nós e nos fazem passar pelo cabo das tormentas. Raramente pensamos que o nosso maior obstáculo somos nós - na maioria das vezes. Não olhamos verdadeiramente para o espelho de forma a que consigamos efectuar uma análise verdadeira e profunda do que somos. Vivemos tantas vezes pela rama e com base em tudo o que é acessório. Não escutamos a nossa intimidade e os alertas que o nosso "eu" vai lançando entre as pedras do caminho. Por isso, quebramos tantas vezes. Caímos vezes sem conta. Voltamos a erguer-nos; por vezes, com muita dificuldade. Julgamos que não vale a pena tanto esforço e que logo a seguir voltamos a cair. É uma espécie de batalha desigual. Uma luta quase desesperada contra nós. É também por isso que neste sobe e desce que é a nossa vida gosto de recordar "Sísifo", um grande poema de Miguel Torga. No quebrar de ciclo que tantas vezes acontece é preciso saber ler a mensagem que este grande colosso das letras portuguesas nos deixou: "Recomeça / Se puderes / Sem angústia / E sem pressa. / E os passos que deres / Nesse caminho duro / Do futuro / Dá-os em liberdade. / Enquanto não alcances / Não descanses. / De nenhum fruto queiras só metade." Lembro-me de Torga tantas vezes, principalmente nos ciclos de ventos menos favoráveis à nossa navegação. E inspirando-me nas suas palavras também vou à procura do fruto inteiro colocando tudo o que está ao meu alcance para viver uma vida inteira, plena e repleta de intensidade, mesmo no meio das dificuldades que a espuma dos dias sempre traz. E vou pelo caminho, como diz o poeta, "nunca saciado", para continuar a colher ilusões sucessivas no pomar e "sempre a sonhar e vendo o logro da aventura". Quando subo e desço a montanha, quando tropeço nas pedras do caminho e, sobretudo, quando olho para a esperança dos raios de luz que sol sempre nos dá recordo-me sempre de continuar a tarefa, de recomeçar sempre e de me levantar todas as vezes porque, e cito-o outra vez, "és homem, não te esqueças! Só é tua a loucura, onde, com lucidez, te reconheças". E digo sempre para os meus botões que de nenhum fruto quero só metade!
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