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O homem entre a humildade e a arrogância
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O homem entre a humildade e a arrogância

Actualizado 04/09/2016
Miguel Nascimiento

O homem entre a humildade e a arrogância | Imagen 1

A nossa vida cruza-se, entre muitas outras coisas, com a humildade e com a arrogância. Perguntamo-nos, tantas vezes, se somos humildes ou arrogantes. Observamos o comportamento dos outros e comparamo-nos a toda a hora. Classificamos os outros em função do que pensamos e somos. Mas, se nos olharmos ao espelho e afirmarmos que somos humildes será que, verdadeiramente, entenderemos o que é a humildade? Um humilde pode ou deve classificar os outros como humildes ou arrogantes? Que direito temos de classificarmos os outros em função dos nossos subjectivos padrões? Não será isso um sinal de arrogância? Ao longo dos tempos o homem tem seguido o seu caminho entre a humildade e a arrogância. A história da humanidade dá-nos conta de exemplos sem fim. Sobre esta matéria julgo que existirão sempre mais perguntas do que respostas. Para além disso tenho poucas certezas sobre esta matéria. Mas, uma das poucas que tenho vai ao encontro do que disse o filósofo brasileiro Paulo Freire - "a humildade exprime uma das raras certezas de que estou certo: a de que ninguém é superior a ninguém." A humildade é uma grande qualidade. Agir com simplicidade é iniciar um caminho repleto de virtude e sabedoria. Esta é também uma característica das pessoas que sabem assumir as suas responsabilidades sem estimularem a arrogância, a prepotência ou a soberba. São Tomás de Aquino disse-nos que "a humildade é o primeiro degrau para a sabedoria." Não é por acaso que a história dos tempos tem demonstrado que os detentores de sabedoria são, na maioria dos casos, os mais humildes, simples e respeitadores do espaço dos outros. Humildade combina com sabedoria. E aquilo que às vezes falta em humildade sobra em arrogância e soberba daqueles que nada sabem e que se olham ao espelho mas que não conseguem ver para além do simples reflexo de uma triste caricatura. As palavras bíblicas que se congregam na tradição cristã repetem até à exaustão a palavra humildade: "quem se humilha será exaltado, e quem se exalta será humilhado". A arrogância exprime-se na falta de humildade. É uma espécie de antagonismo. Quem é arrogante sente-se superior aos outros. Olha-os de cima para baixo. O humilde trata todos como iguais. A humildade aproxima. A arrogância afasta. Tenho referido por diversas vezes que vivemos tempos difíceis. Toco muitas vezes nesta tecla não só para vincar aquilo que é evidente e que está diante dos nossos olhos mas também para que todos possamos reflectir mais sobre a causa das coisas. O mundo que conhecemos está cada vez mais competitivo. Parece uma corrida de loucos sem fim à vista. Há uma verdadeira luta pelos lugares da frente, pelo destaque em relação aos outros e pela afirmação do nosso poder individual. Queremos ser mais fortes e estar mais à frente. Queremos estar mais acima. E fazemos tudo o que estiver ao nosso alcance para atingirmos esse objectivo. Vamos perdendo a humildade e estimulamos cada vez mais a arrogância e a soberba. Consideramos que a humildade é o caminho certo. Mas, em consciência, não escolhemos este caminho porque sabemos que assim não chegamos lá. A humildade não fala alto neste mundo de autênticas gritarias. Tantas vezes são os arrogantes que conquistam mais espaço e alcançam as vitórias desejadas no curto prazo. Agindo com arrogância impõem-se nas respectivas comunidades. Mas, a longo prazo, depois de assentar a poeira das vitórias vazias e das mãos cheias de nada os arrogantes perdem o respeito, a amizade e o carinho dos que estão à sua volta. Até podem ter tudo o que desejaram, nomeadamente ao nível material, mas perderão o que o dinheiro não pode comprar e que apenas está ao alcance dos corações que olham para os outros em pé de igualdade e com absoluta simplicidade e humildade. Estes são os "convencidos da vida" de que nos falou Alexande O´Neill com uma crítica muito certeira: "convencidos da vida há-os, afinal, por toda a parte, em todos (e por todos) os meios. Eles estão convictos da sua excelência, da excelência das suas obras e manobras (as obras justificam as manobras), de que podem ser, se ainda não são, os melhores, os mais em vista." Os convencidos da vida andam por aí. Julgam-se os maiores. Conhecem algum sucesso. Ou mesmo muito sucesso. Olham-se no espelho vezes sem conta. Exibem-se. Mostram-se. Gostam que olhem para eles, para o seu sucesso. Não conhecem a palavra humildade. Praticam a soberba e a arrogância. Seguem o caminho olhando os outros de cima para baixo. Mas um dia, quando for demasiado tarde, perceberão que o caminho andado foi um nada, um autêntico vazio. Partirão para a grande viagem sem regresso. Não levarão nada. Também não deixarão nada. Apenas um imenso vazio. Ninguém terá saudades deles. Ninguém se lembrará deles porque não terão memória de um gesto, de um carinho ou de uma atitude de humildade. Jamais serão exaltados. Jamais alcançarão aos caminhos altos porque ninguém lhes chegará a escada da humildade que nunca souberam apreciar. Não terão tempo para arrependimentos nem para começarem de novo. Não serão nada, apenas um laivo de arrogância que se foi perdendo nas brumas do tempo.

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