Tenho vindo a reflectir em voz alta sobre a qualidade do nosso tempo e do caminho que queremos percorrer. Não alinho pensamentos com base em preconceitos nem chego a verdades insofismáveis. Não cheguei ainda a grandes conclusões. Talvez esse não seja o verdadeiro estímulo deste arrumar constante das minhas ideias. Cada vez mais me deixo levar pela aventura que constitui a viagem, a procura, com todas as suas emoções, sensações, cheiros, cores e odores.
Cada um de nós segue um caminho mesmo que não esteja completamente delineado e perceptível. E nos tempos que correm é preciso tomarmos consciência de quem somos e o que estamos a fazer nesta nossa curta viagem terrena. A vida é um instante. Por isso, devemos amá-la e sobretudo aproveitar cada momento. Os obstáculos do dia-a-dia e as dificuldades que atravessamos moldam a nossa forma de ser e de estar. As nossas emoções são como uma "montanha russa" repleta de posições extremadas, excessos e radicalismos. A harmonia por vezes não chega até nós ou talvez não façamos o verdadeiro esforço para a procurar. O caminho que percorremos deve ser também o tempo do equilíbrio e da procura interior, de aperfeiçoamento e de reforço das nossas convicções.
Por vezes, andamos demasiado distraídos sobre o que verdadeiramente importa. Deixamo-nos enredar pelo supérfluo e pela excessiva oferta de banalidades, às quais damos demasiada importância! Às vezes, falta-nos fé! Também não a procuramos nem escutamos o nosso coração. Muitas vezes, sobretudo em momentos difíceis, temos que acreditar sem ver para continuarmos o caminho, com equilíbrio e harmonia, ultrapassando todas as dificuldades, uma a uma. Quando tenho problemas ou encontro amigos a passar momentos menos bons cito quase sempre uma célebre frase de Winston Churchill que referia o seguinte: "se pensas que estás a atravessar um inferno continua porque acabarás por sair dele." Neste Natal um amigo ofereceu-me um livro, "O Caminho do Meio - uma fé ancorada na razão", exibindo na capa a figura do grande mestre Dalai Lama.
O título do livro inquietou de imediato o meu espírito. Sou cristão católico. Tenho fé e ao mesmo tempo gosto de alicerçar as escolhas do meu caminho na razão. Mas também não tenho dogmas. Aplaudo sempre os líderes religiosos que seguem o caminho do diálogo ecuménico. Abri esse livro com um prazer imenso por muitas razões. Encontrei uma dedicatória que, entre outros, dizia o seguinte: "talvez seja no equilíbrio, no "caminho do meio", que encontramos a nossa paz e o nosso sossego espiritual. Estando bem connosco, estaremos bem com os outros. Essa forma de equilíbrio, da verdade, do absoluto, do infinito é o desassossego constante que nos deve tornar melhores seres humanos para os outros e com os outros". Tenho a sorte de ter bons amigos?e possuidores de imensa sabedoria e bondade. Mergulhei neste livro, baseado numa série de importantes ensinamentos budistas, e agradeci o meu amigo o constante desassossego. Tenho-me deliciado com o caminho do meio, do equilíbrio e de uma "fé ancorada na razão". Por isso, estou cada vez mais convicto da necessidade de afastarmos os dogmas e os preconceitos para, a partir daí, deixarmos entrar luz no nosso coração e para alcançarmos mais harmonia, mais sabedoria e mais equilíbrio.
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