O ano está a chegar ao fim. Foi um tempo difícil! Foi um ano duro! As comunidades ocidentais em que nos inserimos lidaram mal com a crise das dívidas soberanas. O tempo da economia mergulhou a coesão social num caos. De um momento para o outro a classe média foi quase esmagada pela austeridade. Aqueles que viviam de forma mediana mas confortável passaram à condição de pobres. Os pobres ficaram ainda mais pobres. Voltámos ao tempo do grande fosso social e dos contrastes evidentes. A deriva tecnocrática, economicista e esquizofrénica tomou conta de muitos governos e de uma parte substancial da Europa. Prevaleceu o pseudocontrolo do défice em detrimento das pessoas e do seu bem-estar. Cortou-se a fundo na educação, na cultura e na saúde. Os resultados estão à vista e revelam um quadro negro difícil de aceitar. Os amantes das políticas neoliberais exultam de alegria na medida em que conseguiram, com algum sucesso, desmantelar o estado social que levou décadas a construir. Para alguns, de visão curta, o que interessava era as contas baterem certo com um determinado dogma economicista mesmo que pelo meio do caminho se alargassem os domínios da pobreza e da exclusão social. Todos sabemos que sem orçamentos controlados e políticas devidamente enquadradas com a respectiva capacidade financeira não se vai a lado nenhum. É assim nas famílias, nos governos e também na Europa. Mas, na verdade, também não podemos cair no exagero de pretendermos controlar o que há muito andava descontrolado deixando as pessoas para trás! A realidade deste ano, e dos anteriores, foi muito dura. Há danos irreparáveis e outros que levarão muito tempo de recuperação. Estamos a encerrar um ciclo. Algumas coisas são tão evidentes que não podemos continuar de olhos vendados à espera de manhãs de nevoeiro que tragam de volta todos os sebastianismos esquecidos. Hoje percebemos facilmente que a Europa não esteve à altura das circunstâncias. Faltou-lhe uma liderança forte e a necessária coesão e solidariedade para enfrentar os obstáculos que tinha pela frente. Para além disso as receitas para a solução da crise das dívidas soberanas, especialmente dos países do sul do velho continente, falharam todas. As pessoas e as respectivas comunidades ficaram mais pobres e mais desprotegidas. A austeridade não solucionou o problema. Antes pelo contrário, criou outros e empurrou uma parte significativa da Europa para a pobreza e para a exclusão social. A crise voltou a dividir famílias e a induzir sofrimento e angústia em territórios que estavam pacificados. Existe hoje um profundo sentimento de revolta contra os poderes públicos que, por sua vez, se irão reflectir cada vez mais nos actos eleitorais. O protesto e uma cada vez maior consciência cívica e capacidade de intervenção estão a fazer do protesto um novo espaço político, cultural e social. Depois da crise económica (que ainda não está ultrapassada) veio a crise dos refugiados e, mais uma vez, a Europa, absolutamente fragilizada, foi incapaz de dar uma resposta rápida e eficaz às necessidades de todos os seres humanos que lhe bateram à porta procurando ajuda para a solução de um drama humano terrível. A Europa falhou em toda a linha. Pelos nossos olhos passaram imagens reais que nunca devíamos ter visto e, acima de tudo, que nunca deviam ter acontecido. O sangue e as lágrimas de mulheres e crianças, o cheiro da morte e os rostos de desespero de muitos homens sem planos de fuga do inferno nem de pontes de esperança por onde pudessem encaminhar as suas famílias marcaram este tempo negro da história europeia. Há gerações perdidas e na maioria dos casos é preciso construir tudo de novo. Por isso, nesta passagem para um ano novo desejo apenas que a esperança se renove para voltarmos a acreditar que é possível encontramos o caminho dos dias melhores! Em tempo de passagem e de renovação de ciclos todos desejamos saúde e prosperidade para os nossos e para os que nos acompanham. É bom que isso aconteça. É sinal que não estamos sós e que o nosso círculo de afectos ainda vislumbra os raios de sol. Mas, se reflectirmos sobre a condição das comunidades em que estamos inseridos todos sabemos que este ano devemos ser mais exigentes na nossa renovação da esperança. Mas, para além do desejo devemos meter mãos à obra para construirmos um caminho mais sólido, mais humano e também mais solidário. Este é o temo de fazer para acreditar. E de acreditar nos estamos dispostos a fazer para que a mudança aconteça. Nesta passagem é preciso que a energia de todos possa fluir numa mesma direcção para que se rasguem as nuvens negras do horizonte ? que deixem entrar a luz da esperança. Bom ano novo!
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