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O nó da gravata colorida
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O nó da gravata colorida

Actualizado 22/11/2015
Miguel Nascimiento

Vivemos tempos de uma intolerância extrema! Todos os dias acontecem tragédias. Os extremismos estão mais radicalizados que nunca. O sangue corre pelas ruas das cidades de todo o mundo. Morrem inocentes em nome de nada! Há terror e pânico! As nuvens negras cobrem todo o nosso horizonte. O mundo que conhecemos está doente. Mas, apesar do que vai acontecendo e das [Img #483477]vidas interrompidas há uma réstia de esperança que desponta aqui e ali como se de uma flor no deserto se tratasse. Há dias, no metro de Atlanta, nos Estados Unidos, foi registado um momento de grande beleza e dimensão humanista. As imagens valem mais que as palavras e esta em particular aquece os nossos corações e carrega todas as baterias da esperança, fazendo-nos acreditar que é possível construirmos um mundo melhor, mais simples e mais humanista. A imagem que deu origem a este breve texto é acima de tudo uma luz num no quarto escuro das vidas deste tempo. Esta fotografia é também a entrada para o cenário de uma história simples mas repleta de significado. Um jovem estava sentado num banco do metro a tentar, sem sucesso, dar um nó na sua gravata. Uma senhora que viveu muitas primaveras reparou neste pormenor, perguntou ao marido se sabia fazer nós de gravata e perante a afirmação positiva pediu-lhe que ajudasse o rapaz. Enquanto durava a tarefa a senhora colocou-se na frente do rapaz, protegendo-o dos olhares condenatórios que a nossa sociedade está sempre pronta a usar. Este casal de idosos teve um pequeno gesto que iluminou o metro de Atlanta e todos os corações da humanidade. As redes sociais, já se sabe, transformam a partilha dos momentos interessantes em acontecimentos virais, como agora se diz. Foi o caso. Esta partilha contava há dias com mais de um milhão e setecentas mil visualizações. São pequenos gestos como este que têm a capacidade de acender o farol da esperança, principalmente nestes tempos conturbados. Neste instante não há preocupações ou hesitações sobre o "outro" que está em apuros mesmo que seja só por causa do nó de uma gravata. Neste instante a dimensão humana surpreende-nos pela simplicidade. O rapaz ficou com o problema resolvido e com um nó de gravata bem feito e repleto de afectos. Este casal de idosos demonstrou-nos de forma simples que o tempo é sabedoria e tolerância. Os nossos corações dilataram-se e fortaleceram-se no amor como a maior arma de combate a todas as intolerâncias. É tempo de juntarmos forças, energias e afectos tal como estão juntos os bagos da româ, um fruto de excelência desta época outonal de mil cores. Em tempos de juventude também tive dificuldades em dar um nó na gravata, mas contei sempre com a ajuda de quem veio em meu auxílio para não enfrentar constrangimentos. A gravata, a camisa e o fato em que a dita devia combinar não faziam parte de uma indumentária de todos os dias. Mas, de vez em quando era necessário dar um nó na gravata e era sempre um problema. Depois aprendi. Mas, entretanto contei sempre com quem veio em meu auxílio quando se tornou necessário. Também por isso este momento foi como a anatomia de um instante na minha vida. A gravata é um adorno interessante mas por vezes não consegue dar brilho ao que não tem luz. Não na aparência mas no seu interior. No nosso dia-a-dia, no "Cara a Cara", como canta o Chico Buarque, "há um nó na gravata" e "há um nó no coração". E esses são mais difíceis de fazer e desfazer. Aqui no metro de Atlanta o nó ficou bem feito e o perfume humanista tomou conta dos dias. O jovem lá seguiu o seu caminho com um nó na gravata e talvez outro no coração. É uma história bonita a que este casal de idosos nos brindou. Porém, a dimensão do homem não se mede pela cor e pelo nó da sua gravata. A este propósito vale a pena escutar a sonoridade e a intensidade do poema "gravata colorida" de Solano Trindade, o "poeta negro" como lhe chamaram no Brasil, em África e em todos os palcos do mundo onde a cultura exibe o seu esplendor:

Gravata Colorida: "Quando eu tiver bastante pão / Para meus filhos / Para minha amada / Pros meus amigos / e pros meus vizinhos / quando tiver / livros para ler / então eu comprarei / uma gravata colorida / larga / bonita / e darei um laço perfeito / e ficarei mostrando / a minha gravata colorida / a todos os que gostam / de gente engravatada?."

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