Viernes, 29 de marzo de 2024
Volver Salamanca RTV al Día
Alfredo Pérez Alencart, o poeta peregrino!
X

Alfredo Pérez Alencart, o poeta peregrino!

Actualizado 11/10/2015
Miguel Nascimiento

No dia 19 de Setembro, no Colegio Mayor Fonseca da Universidade de Salamanca, o poeta Alfredo Pérez Alencart lançou dois livros: "Los éxodos, los exílios" e "Alencart, poeta de todas partes". Este grande evento cultural contou com uma grande cobertura mediática e em particular da "nossa" SALAMANCArtv AL DÍA. Infelizmente não foi possível estar presente mas tive o privilégio de ler o primeiro livro antes de ser enviado para o prelo. Com base nessa leitura e do contacto recente com a trajectória poética daquele que julgava ser apenas um eminente professor de direito do trabalho permitiu-me escrever, como diz o poeta António Salvado, um "arrazoado" sobre um livro que aborda um tema de extraordinária actualidade. Num tempo em que se voltam a erguer muros na Europa e que assistimos, quase impotentes, ao drama das migrações é mais do que necessário que a poesia venha despertar os nossos corações submergidos num quotidiano repleto de egoísmos e individualismos. Neste tempo de grandes dificuldades há espaço para a memória e para as palavras poéticas de todos os que cantam o drama de quem um dia teve que sair da sua terra, do seu chão, para partir em viagem, muitas vezes sem destino, à procura do sol que a trevas e a escuridão taparam. Este livro de Alfredo Pérez Alencart é uma luz no escuro. É um fogo que aquece os nossos corações! Quando o li emocionei-me, de verdade! Afinal, Portugal é também um país das migrações. O sangue que me corre nas veias também bebeu da aventura da emigração clandestina e das passagens difíceis "a salto" na fronteira de Espanha para que os portugueses pudessem chegar à terra prometida: França! Dei o meu pequeno contributo com o coração nas mãos. Este é um livro de emoções e de afectos! É um exercício de memória e um manual que devia estar à cabeceira de todos os homens e mulheres que têm a responsabilidade de, em determinado momento, decidir o destino de alguém que, por força das circunstâncias, teve que sair do território das suas raízes. Este é um livro essencial. É uma brisa que sopra na alma e um suplemento energético para o reforço dos grandes valores humanistas que fundaram a nossa Europa após os escombros da II Guerra Mundial. Este livro em si é um "peregrino", porque antes de ver a luz do dia percorreu mundo recolhendo textos e ensaios que "embrulhassem" este autêntico tesouro da poesia que bate fundo no nosso coração. Dei o meu modesto contributo neste autêntico roteiro de afectos. Destaco, desse meu arrumar de palavras, algumas notas do meu olhar sobre um percurso extraordinário. Esta obra, este "poemário sobre las migraciones", escrito e desenhado com enorme sensibilidade pelo poeta que um dia veio para terras de Cervantes e de Unamuno, partindo do longínquo Puerto Maldonado, no Perú, é também uma grande peregrinação de toda uma vida. Na sua viagem interminável o poeta "peregrino" foi encontrando acolhimento em muitos lugares mas foi, sem dúvida, na mágica cidade de Salamanca que encontrou o manto protector que lhe permitiu expressar os seus sentimentos e também ser porta-voz de todos os que, como diz, por alguma razão "deben abandonar el territorio donde nacieron". Assim, as palavras do poeta Alfredo Pérez Alencart e os fantásticos desenhos de Miguel Elias formam uma espécie de "arca de afectos" onde cabem todos os sonhos do mundo e a esperança em dias melhores. A aldeia global em que o mundo que conhecemos se transformou fez aumentar a mobilidade e também os êxodos e os exílios. Mergulhar nas páginas deste livro é beber a seiva de muitas gerações e de muitas histórias de vida. É uma grande lição de humanismo e sensibilidade. Hoje quando a evidência dos números fala mais alto, mesmo quando estamos a falar de seres humanos, é preciso contrariar essa corrente de insensibilidade. O caminho é longo. Percorre-se uma distância enorme. Nasce o sol, põe-se a lua. Muitos dias de caminho, muitos pensamentos contraditórios e o coração sempre a palpitar emoções. É vencida uma "distancia y otra, y otra más hasta llegar en medio del pueblo o la ciudad, lagrimeando de verdad porque así es el juego de la vida, salir caminando bajo soles de magnesio, bracear hasta que llegue el crespúsculo, desarraigarse por el pan creyéndose golondrina". A poesia embala-nos, quase que nos adormece. Mas, ao mesmo tempo excita-nos, aviva-nos a memória, não nos deixa esquecer as partidas e as chegadas! Sim, tal como fez o nosso poeta, é preciso perguntar porque partimos? "Porque estamos "hartos de la rutina del hambre". [Img #449000]Alfredo Pérez Alencart, o poeta peregrino, sempre com Deus no coração, relata-nos caminhos e viagens, mas, acima de tudo, dá grande atenção ao pormenor do sentimento, do sofrimento dos dias e noites que passam: "De menos a más alumbra otro día cayendo la última luna que se descansa allá echada por el otro confín que es tu legítima defensa no por capricho giratorio sino porque funda un orbe atornillando tu energía para que aquí el páramo no se hunda y suba su raíz por tu ramaje de peregrino con absoluto conocimiento de los caminos que no desaparecen por los oásis".

La empresa Diario de Salamanca S.L, No nos hacemos responsables de ninguna de las informaciones, opiniones y conceptos que se emitan o publiquen, por los columnistas que en su sección de opinión realizan su intervención, así como de la imagen que los mismos envían.

Serán única y exclusivamente responsable el columnista que haga uso de nuestros servicios y enlaces.

La publicación por SALAMANCARTVALDIA de los artículos de opinión no implica la existencia de relación alguna entre nuestra empresa y columnista, como tampoco la aceptación y aprobación por nuestra parte de los contenidos, siendo su el interviniente el único responsable de los mismos.

En este sentido, si tiene conocimiento efectivo de la ilicitud de las opiniones o imágenes utilizadas por alguno de ellos, agradeceremos que nos lo comunique inmediatamente para que procedamos a deshabilitar el enlace de acceso a la misma.

Comentarios...