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Actualizado 19/07/2015
Miguel Nascimiento

Sempre fui um europeísta convicto. Sempre acreditei no processo de construção europeia como caminho de paz para a edificação de um grande projecto de matriz humanista e de forte coesão social e económica. Depois da II guerra mundial foi a visão de grandes personalidades, gente com alma grande, como Konrad Adenauer, Joseph Bech, Johan Willem Beyen, Winston Churchill, Alcide de Gasperi, Walter Hallstein, Sicco Mansholt, Jean Monnet, Robert Schuman, Paul-Henri Spaak e Altiero Spinelli que, com grande sabedoria, fundaram um novo tempo no espaço europeu. Estes homens sonharam, há mais de meio século, com a criação de uma Europa pacífica, unida e próspera. Foram inspiradores do projecto europeu e contribuíram, de forma incansável e determinante, para a sua realização.

[Img #285046]Jacques Delors, um dos grandes arquitectos da construção da Europa, referiu ao jornal euronews que, no momento em que soube da atribuição do prémio Nobel da Paz à União Europeia, pensou "em todos os pais da Europa; nos momentos decisivos marcados por uma visão e uma elevação espiritual e mesmo moral; e pensei, por outro lado, em todos os militantes da causa europeia, porque não é fácil!" O ex-presidente da Comissão Europeia e, entre muitas outras coisas, fundador do grupo de reflexão Notre Europe é uma das personalidades que mais contribuíram para a consolidação do pensamento europeu.

Mas, Jacques Delors sempre soube que o caminho não seria fácil, como referiu vezes sem conta ao longo da sua vida. Há tempos e a propósito da crise financeira e económica que trouxe à luz do dia as limitações do euro referiu que a adopção da moeda única "foi uma boa decisão mas com um vício de construção". Nesse sentido, sempre defendeu que o caminho da construção do euro devia contemplar "uma parte económica e uma parte monetária. A parte económica foi negligenciada e resultou num defeito de construção que depois pagámos muito caro, porque não houve coordenação das políticas económicas, não existiram discussões abertas entre os ministros que teriam permitido ver que na Irlanda, em Espanha e em Portugal procedemos a perigosas fugas para a frente. Porquê? Porque naquela época o euro protegia, mas não estimulava e o euro protegia-nos até das nossas asneiras. É este o defeito de construção que temos que reparar hoje". Jacques Delors sabe do que fala e faz avisos à navegação.

A Europa precisa de se reencontrar e dar respostas rápidas para os problemas que a afectam enquanto instituição agregadora mas também precisa de encontrar soluções para os problemas que afectam os seus Estados-membros nas suas especificidades. Este é um tempo muito difícil. A crise económica e financeira e a ausência de respostas para as suas drásticas consequências abalaram, claramente, a confiança que os europeus depositaram ao longo dos anos no seu processo de união. A paz é um bem em si. É insofismável. Mas, como sabemos, o fantasma da guerra está sempre à espreita. É preciso não deixarmos que ganhe lastro. A manutenção da paz foi e é um dos grandes desígnios da construção de uma Europa unida, coesa e solidária. Foi assim que os seus pais fundadores a desenharam e impulsionaram. Mas, em paralelo, e em tempo de paz, não podemos deixar que na ausência de resposta aos problemas deste tempo, a Europa caminhe, como disse o ex- Comissário Europeu António Vitorino, "para a irrelevância". A Europa coesa e solidária com que sonharam os europeus mais entusiastas deste caminho fraterno não pode vacilar perante as adversidades que o tempo, ciclicamente, lhe impõe.

A Europa social não pode perder tempo no combate ao enorme desafio que é a diminuição do desemprego e a erradicação da pobreza e da exclusão social. Esta Europa precisa de acertar o verbo e sobretudo a acção, encontrando as soluções necessárias para os diferentes problemas que cada estada-membro enfrenta num determinado momento. Se a Europa não souber ser solidária desagrega-se. Se a Europa não souber ser coesa, criando clivagens entre o Norte e o Sul, deixa de fazer sentido, entregando cada um à sua sorte. Sou um europeísta convicto como referi. Mas, preciso que esta Europa de paz em que acredito seja também uma europa que responda, com rapidez e eficácia, aos problemas que Portugal, Espanha, Grécia, Irlanda e todos os outros países, com maior ou menor dificuldade, estão a atravessar. Não precisamos de uma Europa de directórios. Precisamos de uma Europa de diálogo que compreenda as questões de cada estado-membro. É preciso que se abandonem as soluções casuísticas e pontuais na resposta às questões de emergência que acontecem, como diz António Vitorino, quase sempre "na vigésima-quinta hora". Em Maio celebraremos de novo a Europa. Recordaremos a declaração fundacional de Robert Schuman e evocaremos todos os pais fundadores e todas as lideranças de referência. Em Maio, depositaremos, de novo, a nossa esperança no futuro e reforçaremos as nossas convicções em todas as virtualidades europeias. Mas, em Maio, no tempo europeu, não nos podemos esquecer nunca da emergência em que vivemos com milhões de desempregados, com um aumento exponencial da pobreza e da exclusão social, e com uma necessidade imperiosa de respostas que estabilizem e consolidem as economias dos estados-membros para podermos falar em crescimento e retomar "o sonho europeu".

Miguel Nascimento

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