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O Mediterrâneo e a globalização da indiferença
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O Mediterrâneo e a globalização da indiferença

Actualizado 14/05/2015
Miguel Nascimiento

"A globalização da indiferença tirou-nos a capacidade de chorar!" Papa Francisco, Ilha de Lampedusa, 2013

Esta semana a Universidade Livre de Amesterdão deu-nos conta de um estudo que coligiu dados oficiais de Espanha, Gibraltar, Itália, Malta e Grécia sobre os imigrantes mortos retirados do mar entre 1990 e 2013. Os números apurados são aterradores mas ainda assim estão longe da realidade.

[Img #306541]Uma imensa maioria de seres humanos desaparece no mar sem deixar rasto. Muitos outros não se conseguem identificar. Por outro lado, a Frontex ? Agência Europeia de Gestão das Fronteiras Externas ? revelou que dos 283.000 migrantes que entraram ilegalmente na União Europeia em 2014, mais de 220.000 chegaram através do mar Mediterrâneo. Só de Janeiro para cá já ali perderam as vidas 1800 imigrantes, 30 vezes mais do que no mesmo período de 2014. O estudo da Universidade de Amesterdão recomenda a constituição de um Observatório Europeu sobre a Morte de Migrantes e evidencia, entre outras conclusões, que nos últimos 25 anos a implementação de políticas migratórias europeias de carácter restritivo criaram um mercado para os traficantes e espaço para a tragédia humana no mar mediterrâneo.

Às portas da Europa perdem-se milhares de vidas perante a grande indiferença do colosso europeu defensor intransigente dos direitos humanos. O número de mortos tem vindo a aumentar todos os anos. Perante a tragédia a Europa dos valores, da ética e dos grandes referenciais humanistas, lamenta as perdas e desmultiplica-se em declarações e manifestações de solidariedade. Mas, esta Europa imobilizada é incapaz de actuar. Apenas verte "lágrimas de crocodilo". Todos percebemos que, de repente, a Europa não pode acolher o mundo inteiro mas também não se pode fechar numa fortaleza com portas de ferro junto da qual morrem os que procuram a esperança. A Europa social e humanista não pode fechar os olhos a esta tragédia. As restrições migratórias não resolveram nada! Antes pelo contrário, pioraram as coisas!

O mediterrâneo é hoje um imenso cemitério e um lugar de morte e desespero. Não há soluções milagrosas para um problema desta dimensão. Mas, em articulação com todos os estados-membros a União Europeia tem a obrigação moral de encontrar caminhos para a resolução paulatina desta tragédia humana e de promover a esperança junto daqueles que a procuram.

As mortes de milhares de seres humanos têm estado sob atenção mediática. Mas vão deixar de estar na medida em que as imagens se tornarão repetitivas. Na ausência de solução as mortes, o desespero e a angústia vão continuar. E isso, por muito que custe afirmar vai deixar de interessar aos media ? e a outros que decidem as coisas. Por isso, esteve muito bem o Papa Francisco que utilizou a primeira viagem apostólica do seu pontificado, em 2013, para se deslocar à ilha italiana de Lampedusa, no Mediterrâneo, para "chorar os mortos que ninguém chora" e despertar consciências para o combate à "globalização da indiferença". O Papa Francisco esteve junto dos que sofrem e rezou pelos que perderam a esperança e a vida no mediterrâneo. Daquele local mandou uma mensagem muito forte para a aldeia global em que nos deixámos transformar: "Perdemos o sentido da responsabilidade fraterna (?).

A cultura do bem-estar, que nos leva a pensar em nós mesmos, nos torna insensíveis ao grito dos outros, nos faz viver em bolhas de sabão, que são belas, mas não são nada, são uma ilusão de futilidade, do provisório, que leva à indiferença para com os outros, leva até mesmo à globalização da indiferença". Espero e desejo que a mensagem do Papa tenha a força suficiente para não deixar cair esta questão na "globalização da indiferença" salvando o máximo de vidas possível e acabando com o escandaloso tráfico de seres humanos.

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