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Quando Vier a Primavera
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Quando Vier a Primavera

Actualizado 06/04/2015
Miguel Nascimiento

"Quando vier a Primavera / Se eu já estiver morto, / As flores florirão da mesma maneira / E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada. / A realidade não precisa de mim. / Sinto uma alegria enorme / Ao pensar que a minha morte não tem imp

Alberto Caeiro, heterónimo de Fernando Pessoa, emprestou à Primavera um texto lindíssimo que se encontra reunido nos seus poemas "Inconjuntos". Este é o tempo da Primavera. O despertar da natureza depois de um longo e frio Inverno. Cumpre-se o ciclo da vida. Nascer, viver, morrer. Num tempo de incertezas a natureza exibe-nos a certeza do seu tempo, enchendo o seu espaço de flores perfumadas e de todas as cores. A Primavera surpreende-nos sempre em cada renovação do calendário, mesmo que saibamos que é isso que vai acontecer como nos diz Fernando Pessoa: "o que for, quando for, é que será o que é". As coisas mudam. O mundo muda, mas as estação sugirão sempre no tempo devido e as "flores florirão sempre da mesma maneira". E a certeza que a natureza nos garante é fundamental para o nosso equilíbrio num tempo em que os lugares de sempre entraram numa espécie de metamorfose vertiginosa. Estamos numa era de mudanças e de construção de novos caminhos. Não sabemos como será o futuro apesar de avistarmos as nuvens negras no horizonte. Não desejamos o pessimismo mas convivemos com a preocupação das evidências terríveis que passam diante dos nossos olhos, todos os dias. O impensável acontece, infelizmente. As certezas deixaram de ser solo consolidado. Vivemos numa enorme instabilidade. Não sabemos por onde vai esta Europa nem que pontes se estabelecerão no mundo. O que hoje é verdade amanhã pode ser mentira. O que hoje é ? num futuro próximo pode deixar de ser. Por isso, precisamos da Primavera e dos poetas para que nos digam que as "flores florirão sempre da mesma maneira" e no seu tempo! A Primavera vem depois do Inverno, deste Inverno cinzento, opaco, sem valores e sem futuro que acabámos de ultrapassar, na Europa e no mundo. Este é o tempo das flores. É o tempo da esperança. Depois das nuvens carregadas, o sol brilha sobre uma paleta de cores num imenso prado verdejante. Está tudo resolvido? O amanhã será melhor? Não, não está tudo resolvido, nem sabemos se o amanhã será melhor! Sabemos apenas que a Primavera está aí, em todo o seu esplendor, para nos oferecer a certeza de certas coisas e para acreditarmos que nesta renovação da natureza podemos apanhar boleia para renovarmos a esperança em dias melhores. A Primavera vem depois do Inverno porque, entre muitas outras coisas, como nos disse Anne Bradstreet, "se não tivéssemos Inverno, a Primavera não seria tão agradável: se não experimentássemos algumas vezes o sabor da adversidade, a prosperidade não seria tão bem-vinda". Na verdade, no nosso território ibérico temos experimentado muita adversidade neste longo Inverno frio e cinzento. Precisamos da certeza da Primavera, do seu perfume, das suas flores, para seguirmos em frente. Pois, como na palavra de Florbela Espanca, "há uma Primavera em cada vida: é preciso cantá-la assim florida, pois se Deus nos deu voz, foi para cantar! E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada que seja a minha noite alvorada, que me saiba perder... para me encontrar". Espero e desejo que este tempo das flores seja também o caminho para todos nos encontramos, reunindo no mesmo prado verdejante a esperança, a alegria e a felicidade ?.. porque o Inverno foi longo e demasiado frio!

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