A Quinta-Feira Santa marca o fim da Quaresma e o início do Tríduo Pascal. Convoca-nos para uma reflexão ainda mais profunda e repleta de significado. Esta é a Quinta-feira das Endoenças que evidencia a máxima relevância litúrgica e simbólica deste período
Um poema de José Régio, "Quinta-Feira Santa" fala-nos do "Senhor da Cana Verde" que "erguendo o olhar absorto, (Ó imagem sem par! Deus feito pele e osso!) / Seu ceptro da Paixão nas mãos de morto, e a púrpura ao pescoço". O Fundão (como todo o país) assume, no tempo da Quaresma, uma dimensão espiritual muito forte. Cada um segue o seu caminho na medida da sua fé e da preparação para um verdadeiro itinerário do sentir neste que é o ponto mais alto do calendário religioso. A Quinta-Feira Santa marca o fim da Quaresma e o início do Tríduo Pascal. Convoca-nos para uma reflexão ainda mais profunda e repleta de significado. Esta é a Quinta-feira das Endoenças que evidencia a máxima relevância litúrgica e simbólica deste período de sofrimento e dor, mas também de renovação de promessas e de esperanças. A última ceia, o pão e o vinho, Cristo sentado à mesa com os doze apóstolos, é uma imagem que todos interiorizamos desde que somos gente. Apenas precisamos, fundamentalmente nestes tempos conturbados, de aprofundar o seu significado. A mesa, o pão e o vinho, a humildade e a partilha, o corpo e o sangue de Cristo, a instituição da eucaristia, do sacerdócio e, acima de tudo, a expressão de uma mensagem de amor - "amai-vos uns aos outros" - que nos dá a oportunidade de nos lembrarmos de Cristo sempre que praticarmos as nossas melhores virtudes e abrirmos o nosso coração. O "lava-pés" é um gesto notável que nos faz mergulhar na nossa profunda humildade, limpando o nosso espírito para podermos seguir, na palavra do meu amigo Pedro Salvado, a nossa "vereda interior". Humildade e serviço aos outros devia estar gravado mais fundo nos nossos corações. Por vezes não está! Por isso, este ciclo religioso é também uma oportunidade para procurarmos valorizar o que há de melhor em cada um de nós para podermos servir e partilhar com todos o melhor de nós. Por isso, também seguiremos em frente acompanhando Cristo no seu sofrimento, no seu calvário, na sua cruz. Virá um tempo novo de vigilia e de aleluia, no Sábado, até à ressureição de Jesus Cristo, no Domingo. As procissões fazem parte das manifestações do ciclo pascal que no Fundão, segundo Pedro Salvado e João Rosa " é vivido com uma solenidade absoluta. O cerimonial que a cidade reproduz constitui hoje o resultado visível de todo um conjunto de sedimentações e de transformações a que, durante séculos, esteve sujeito. A exteriorização e o sentido público da Quaresma, da Semana Santa e da Páscoa são atitudes que mergulham fundo na história. A rua, em conjugação com o templo, transformou-se em palco e cenário. Um manto de silêncio bruxeleante invade e toma conta das coisas e dos homens, coinstruindo outras sombras e perfis no empedrado das ruas. As procissões revestem-se de uma carga simbólica muito forte, tornando vivo o mistério mais profundo da vida de Cristo a Sua Paixão, Morte e Ressurreição". Na Quinta-Feira Santa no Fundão a comunidade sai à rua para acompanhar a procissão do "Ecce Homo", o Senhor da Cana Verde (que se realiza desde 1697), e visitar as Ermidas onde estão representados quadros vivos da Paixão de Cristo. É um momento de profunda afirmação dos itinerários do sentir. A procissão do senhor da Cana Verde é realizada pela Santa Casa da Misericórdia do Fundão. A irmandade e a comunidade fundem-se num manto negro para acompanharem uma única imagem: Ecce Homo, "eis o homem" palavras de Pilatos, dirigidas ao povo judeu, enquanto lhe apresentava Jesus, já coroado de espinhos, tendo nas mãos uma cana e nos ombros um farrapo de púrpura. José Régio, na sua "Quinta-Feira Santa" continua o seu poema, com dor e sofrimento, olhando para o "Senhor da Pedra Fria ao poste acorrentado, com pálpebras sem luz pesadas como noites, o corpo retalhado e tatuado, dos beijos e açoites". O silêncio da noite, o manto negro cobre a cidade, segue a procissão do Senhor da Cana Verde, na "Via da Amargura" com a irmandade e a comunidade embuídas de um profundo respeito e sentir religioso. Cada um de nós interioriza a dor de Jesus Cristo no percurso e ao som "da marcha da aflição". É tempo de caminhar e reflectir. Caminho, humildade e serviço. Depois da procissão seguir-se-á o "encontro". O encontro da comunidade espelhado nas ruas apinhadas de gente que procuram as Ermidas e os quadros da Paixão de Cristo numa das mais belas manifestações da tradição fundanense. Este tempo também será de encontro de famílias e de reunião da diáspora. A Páscoa é também tempo de regressos às raízes e reforço dos sentimentos que unem e reforçam. Cito, de novo, Pedro Salvado e João Rosa para neste quadro dos itinerários do sentir concordar com eles, mais uma vez, na medida em que é " tão curta a distância do nosso olhar aos templos e às imagens. E, se de caminhos se faz a vida, a Semana Santa ao recriar este Acontecimento, reconstrói a nossa vereda interior apontando o caminho da liberdade individual ao encontro do renascer da Esperança".
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