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padre antónio vieira, o imperador da língua portuguesa
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padre antónio vieira, o imperador da língua portuguesa

Actualizado 08/03/2015
Miguel Nascimiento

O céu estrela o azul e tem grandeza / Este, que teve a fama e a glória tem, /Imperador da língua portuguesa, /Foi-nos um céu também". Fernando Pessoa

Esta semana a obra completa do Padre António Vieira (1608-1697), "o imperador da língua portuguesa", como lhe chamou Fernando Pessoa, chegou às mãos do Papa Francisco. Depois da audiência papal os 30 volumes, divididos em quatro tomos, num total de 15 mil páginas foram apresentados na igreja de Santo António dos [Img #246127]Portugueses, em Roma. Este foi um grande momento de afirmação da cultura lusófona e também de exaltação de uma das maiores figuras de sempre da história de Portugal e do Mundo. O Círculo de Leitores está de parabéns pela ousadia e pelos resultados. Desde 1851 que muitos tentaram, em vão, compilar a vasta obra do jesuíta António Vieira que escreveu, entre sermões, textos proféticos, escritos políticos, poesia, teatro e muitos outros textos. Este trabalho, iniciado em 2012 e concluído no final de 2014 vem colmatar um grave lacuna da nossa cultura e democratizar o acesso à obra e ao pensamento deste jesuíta que, entre muitas outras coisas, foi, na palavra de Mário Soares, "o maior orador que teve Portugal e, sem dúvida, foi igualmente um dos maiores escritores portugueses". Esta obra pioneira coordenada por José Eduardo Franco (Director CLEPUL da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa) com Pedro Calafate (Universidade de Lisboa) é o resultado do trabalho de uma equipa que reuniu 52 especialistas, portugueses e brasileiros, em Literatura, Filologia Clássica, Linguística, História, Paleografia, Filosofia, Teologia e Direito. Para o reitor emérito da Universidade de Lisboa, Sampaio da Nóvoa, em "português as palavras são Vieira. Ninguém antes dele, ninguém, depois dele, fez tanto com as palavras, fez tanto pelas palavras. Sem Vieira, não teríamos a língua que temos." O Padre António Vieira pela importância que encerra para Portugal e para toda a lusofonia merecia que a sua obra estivesse reunida, sistematizada e ao alcance de todos. Teve um significado especial a cerimónia de apresentação da vasta de um grande jesuíta, como foi o Padre António Vieira, ao Papa Francisco também ele formado na Companhia de Jesus. Tratou-se de uma reafirmação da sabedoria, determinação e frontalidade que caracterizam estas duas fíguras notáveis da Igreja. Este português de referência, padre, filósofo, escritor, orador, foi um grande humanista e uma das personalidades mais influentes do séc. XVII, nomedamente na política, na oratória e na defesa dos direitos dos povos indígenas. Combateu a inquisição, defendeu os judeus e a abolição da escravatura. Foi missionário no Brasil e um grande mestre da palavra. Para José Saramago a" língua portuguesa nunca foi mais bela que quando a escreveu esse jesuíta". Este homem, padre e jesuíta, enfrentou os "homens do seu tempo", combateu a segregação e a opressão. Para Viriato Soromenho-Marques "António Vieira é o símbolo de Portugal imortal, do país que não desiste de ser uma comunidade hospitaleira de cultura e futuro. Ele é o rosto da resiliência da nossa pequena nação, que para sobreviver teve de ser maior do que o maior dos sonhos". António Vieira é, no fundo, Portugal. E já era tempo de Portugal reunir a sua vasta obra e torná-la acessível ao conhecimento comum, respeitando e valorizando o seu enorme legado porque, como um dia disse "nós somos o que fazemos. O que não se faz não existe. Portanto, só existimos nos dias em que fazemos. Nos dias em que não fazemos apenas duramos". Mais de quatro séculos depois a sua obra tem uma actualidade impressionante. Os seus sermões são um bálsamo da arte de bem falar e escrever português. Revisitar a obra de António Vieira é uma obrigação de todos nós, fundamentalmente em tempos conturbados e de grande desorientação como os que vivemos. Precisamos muito de beber desta enorme fonte de sabedoria que o jesuíta nos deixou jorrando palavras repletas de luz e apelos à tolerância. Os seus sermões, alegóricos, mas actuais e reais ainda nos permitem ver através das redes porque os "peixes são uma metáfora dos homens". E entre páginas brilhantes e verdadeiramente iluminadas lá encontramos, entre muitas mensagens, os peixes "roncadores" da soberba os "pegadores" parasitas, os "voadores" da presunção e o "polvo" da traição. No século XVII como na nossa impiedosa actualidade temos que estar vigilantes e apelar à "providência" porque "esta é a pregação que me fez aquele peixezinho, ensinando-me que, se tenho fé e uso da razão, só devo olhar direitamente para cima, e só direitamente para baixo: para cima, considerando que há Céu, e para baixo, lembrando-me que há Inferno" (Senão por amor a Deus (cima), então, por repúdio ao inferno (baixo). Esta obra relança a esperança no conhecimento da obra do Padre António Vieira que nos ensinou a tolerância ? e que nos estimulou a combater a segregação num mundo repleto de egoísmos, ontem como hoje, porque "nenhum segue mais leis que as da conveniência própria. Imaginar o contrário é querer emendar o mundo, negar a experiência e esperar impossíveis". Saibamos ouvir e aprender! Escutemos o Padre António Vieira!

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