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Não temos wi fi, conversem entre vocês
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Não temos wi fi, conversem entre vocês

Actualizado 05/10/2014
Miguel Nascimiento

Há dias esta imagem prendeu a minha atenção. No tempo da utilização em excesso das novas tecnologias da informação a preocupação com o exercício da palavra é, no mínimo, uma atitude extraordinária. Os locais públicos, como os restaurantes e cafés, disputam clientes com recurso ao expediente "wi fi". O estabelecimento que surge na imagem faz precisamente o contrário. Ou seja, assume que não tem "wi fi" e, ao mesmo tempo, incentiva os seus frequentadores a conversarem entre si. A mensagem é forte e merecedora de grande aplauso. Não sou conservador nem saudosista. Mas confesso que, para mim, o encanto destes lugares públicos e de encontro reside mais na oportunidade de troca de palavras e de afectos do que no recurso à utilização da internet, desta ou daquela plataforma electrónica. Na actualidade, pequenos aparelhos ligados à internet permitem-nos uma ligação directa ao mundo mas, ao mesmo tempo, desligam-nos de quem está precisamente à nossa frente. A "wi fi" é poderosa e sedutora. Mas é também castradora da palavra e inimiga da conversa como sentido maior do relacionamento humano. Muitos pensam que a utilização em excesso das novas tecnologias da informação é um exclusivo da juventude. Nada de mais errado. Infelizmente a vida da esmagadora maioria das novas gerações é preenchida pela internet. Os telemóveis, os tablets, os ipad´s, os ipod´s e outros agarram a juventude de uma forma intensa e paulatinamente esvaziam outros espaços e competências, nomeadamente de carácter afectivo que os jovens deviam exercitar. Porém, esta verdadeira "praga" tecnológica seduz também as gerações mais velhas. Uns e outros agarram-se às plataformas e às redes de forma tão intensa que quase não deixam espaço para a conversa e para o convívio entre as pessoas. A este propósito assisti, por acaso, a uma espécie de convívio tecnológico que juntou à mesa de um restaurante dois casais de jovens. Praticamente não conversaram entre eles e raramente se olharam nos olhos. Passaram o tempo a teclar nos seus aparelhos, mais ou menos sofisticados. Provavelmente, enviando mensagens uns aos outros, tirando fotografias a tudo e mais alguma coisa, comentando isto e aquilo, publicando tudo o que mexe nas redes sociais e partilhando a intimidade com milhões de pessoas. O tempo tem um valor extraordinário. Por isso, devemos preservá-lo. A dimensão humana tem as suas necessidades. Devemos estimulá-las. A conversa de café é um caminho que não devemos perder. A conversa de café junta, congrega, estimula, anima e desenvolve. O abuso das novas tecnologias da informação ocupa, seca e desertifica o nosso lado humano. Os proprietários deste estabelecimento alertam-nos para este perigo, talvez porque estão atentos às "redes" que todos os dias se sentam no seu espaço esvaziando a dimensão humana que a tradição fez crescer nos cafés e restaurantes das nossas cidades. Aqui não há "wi fi" e ainda bem! Esta mensagem, para além de muitos outros atributos, é reveladora de uma enorme coragem. Ela afastará muitos clientes. Mas atrairá sempre aqueles que vão ao café para apreciar a vida, trocar palavras e deixar fluir as emoções!

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