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A fronteira de agosto
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A fronteira de agosto

Actualizado 10/08/2014
Miguel Nascimiento

para os braços da minha mãe Cheguei ao fundo da estrada, Duas léguas de nada, Não sei que força me mantém. É tão cinzenta a Alemanha E a saudade tamanha, E o verão nunca mais vem. Quero ir para casa Embarcar num golpe de asa, Pisar a terra em

Em Agosto a fronteira de Vilar Formoso ganha uma agitação especial. Por aqui passam milhares de emigrantes portugueses no seu regresso à terra-mãe! Agosto é mês de afectos, de reencontros, abraços e lágrimas! É o merecido descanso dos nossos guerreiros, homens e mulheres, que ao longo do ano trabalharam em muitas geografias dessa imensa diáspora lusa para melhorarem as suas condições de vida! Agora é tempo de recarregarem baterias, soltarem emoções e de correrem para os braços da família e amigos! Há muitas diferenças na emigração portuguesa de hoje e da que fustigou o nosso país nos anos 60. Mas também há quadros que se mantêm. Um deles é a passagem por esta fronteira mítica, apesar do regresso se efectuar agora com grande dimensão através dos aeroportos. A emoção da "passagem" na fronteira continua, apesar da institucionalizada livre circulação de pessoas e bens no território europeu, a encerrar uma carga simbólica muito forte. O atravesamento desta linha que separa Espanha e Portugal tem, especialmente nesta altura, um efeito interior de regresso aos afectos depois de muitos meses de trabalho muito duro e em circunstâncias, por vezes, muito difíceis. Sempre admirei a coragem dos nossos emigrantes! É gente forte, trabalhadora e de alma cheia que respira Portugal! Só Deus sabe o vai no coração de cada um deles no momento em que passam essa linha. Do lado de lá o espaço representa a diáspora. Depois da linha atravessada respira-se um ar de férias e pisa-se uma terra que cheira a casa! Mas, hoje, através das novas tecnologias, em particular as redes sociais, chegam-nos imagens fortes que são evidências desse sentimento de regresso. Há dias prestei particular atenção a esta imagem de uma informação de estrada (que ilustra este texto) que indica que faltam poucos quilómetros para Salamanca e Portugal. Esta imagem encheu-me de alegria por diversas razões. Uma delas e sem querer ser abusivo nesta minha interpretação é a de que este território de fronteira, entre o lado de lá e de cá, já significa o regresso, mesmo que a tal linha mítica ainda não tenha sido atravessada. Mais à frente surgirá a extraordinária cidade de Salamanca com a sua magnífica silhueta, espaço e tempo de história e multiculturalidades, cidade do mundo, a saudar todos os portugueses que ali passam, na sua maioria ao largo, porque têm pressa de regressar à terra da saudade, acompanhando-os até à fronteira e desejando-lhes boa viagem e umas férias retemperadoras! Esta imagem de fronteira é também um símbolo do regresso que todos saudamos. É uma imagem de grande significado do caminho de ida e volta que todos os anos millhares de portugueses realizam para organizarem melhor as suas vidas em geografias onde encontram mais e melhores oportunidades. Em todo o mundo vivem cerca de dois milhões e trezentos mil portugueses. Contando com os descendentes directos destes emigrantes, a população de origem portuguesa nos países de emigração ultrapassa os cinco milhões! É uma enorme diáspora! É muita gente que está fora do seu país que, infelizmente, todos os anos se desertifica e envelhece. Estima-se que a emigração terá levado um quinto dos trabalhadores qualificados de Portugal. Sabemos também que o número de emigrantes supera o número de nascimentos. São dados demográficos de grande preocupação e que causam muitas inquietações sobre o futuro do nosso país. Por isso, o regresso dos emigrantes é um grande bálsamo. É voltarmos a ter um país quase completo, com a sua gente, com quase todos! As cidades, vilas e lugares do nosso território ganham nova vida nesta altura do ano. Durante um mês muitos problemas serão esquecidos, o sol brilhará, as festas e romarias ganham outra luz e alegria. Brindaremos ao momento de reencontro entre abraços, lágrimas e saudades do futuro! Depois voltará tudo ao mesmo. Todos temos consciência disso. Mas quando chegar a hora é necessário que o coração se encha de coragem porque é preciso partir, de novo, para que o pão chegue à mesa. É preciso agarrar o futuro! Nesse tempo os nossos emigrantes voltarão a passar a linha de fronteira com as lágrimas nos olhos. O nosso coração irá com eles, desejando-lhes força e coragem! Para o ano há mais. Nova pausa para um novo regresso. Será assim até que as coisas tenham outro rumo e novas esperanças. Entretanto "a terra em brasa", como na canção de Pedro Abrunhosa, voltará a lembrar-nos, a todo o instante, que quando "faz frio em Paris" há milhares de portugueses que querem "voltar para os braços" das suas mães! A todos eles um grande abraço do tamanho do mundo! Tenham boas férias nesta merecida pausa do guerreiro! A fronteira de Agosto cá estará à espera de um novo tempo, com menos partidas e muitas chegadas!

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