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A nova fronteira
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A nova fronteira

Actualizado 20/04/2014
Miguel Nascimiento

Em 1986 Portugal e Espanha aderiram à então Comunidade Económica Europeia. Foram juntos para essa grande aventura da construção de uma Europa unida, coesa e solidária. Sou um europeísta convicto. Acredito no projecto europeu apesar de todas as suas debilidades, hesitações, contradições, avanços e recuos. Os dois países da Ibéria mudaram muito desde o início da sua caminhada europeia. Os fundos comunitários contribuíram para uma grande mudança social e económica. Catapultaram os dois países para outro patamar de desenvolvimento.

Neste momento, olhamos para a Europa com outro cepticismo em função da crise económica e financeira que a crise das dívidas soberanas nos trouxe. Os números do desemprego, o aumento da pobreza e da exclusão social fazem-nos perguntar constantemente: onde está tu Europa agora que precisamos tanto de ti? Apesar das dificuldades e dos tempos difíceis que atravessamos julgo que o caminho é europeu, em coesão e solidariedade, e que constitui o trilho de saída para um novo tempo e para uma nova esperança, especialmente para as gerações mais jovens.

Durante séculos Portugal e Espanha construíram a "magia" da fronteira, ora guerreando-se, ora estabelecendo pactos de amizade. De forma intermitente a fronteira foi, ao longo dos tempos, traço de união e de separação. Em 1992 com a abertura das fronteiras no espaço europeu derrubou-se um muro imaginário que separava Portugal e Espanha. A fronteira continuou a possuir uma marca profunda mas os cidadãos começaram a atravessá-la de forma livre. Encerrou-se um ciclo económico e cultural que se foi construindo sobre as histórias do contrabando, extraordinariamente retratadas por Miguel Torga no seu conto "a fronteira", descrevendo, com pormenor, um território que "ganhava outra vida quando a noite caía" sobre esta linha de separação que, por isso mesmo, era também um modo de ganhar a vida para muita gente.

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Hoje não existem fronteiras nem caminhos do contrabando. Mas, perdura essa linha imaginária de separação que é preciso apagar. Estamos aqui ao lado! Estamos ao lado uns dos outros! É tempo de rompermos a fronteira imaginária para partilharmos, em conjunto, a esperança no futuro. A Raia que é o nosso "chão" apresenta as mesmas dificuldades e potencialidades dos dois lados da fronteira. Existem enormes diferenças entre os dois países que é preciso respeitar, sempre! Também existem muitas semelhanças e sinergias que é necessário catapultar para, em conjunto, criarmos riqueza, emprego, coesão social e desenvolvimento.

Estamos aqui ao lado! Estamos juntos! Passamos de um lado para o outro de forma livre e no exercício da nossa condição de cidadãos europeus de pleno direito. Por isso, estamos no tempo certo para atravessarmos, vezes sem conta, essa ponte imaginária que liga os dois países. E neste novo percurso da fronteira devemos começar por explorar a nossa cultura comum, contemplando a paisagem, observando os monumentos, visitando lugares e espaços, conversando com as pessoas!

É preciso, por exemplo, que os habitantes de Castilla y Léon venham até Viseu, Guarda, Covilhã, Fundão e Castelo Branco, mergulhando Portugal adentro. É preciso que conheçam melhor o nosso território e as nossas gentes! No mesmo sentido é necessário que os habitantes da Beira Interior, das terras do Dão e de todos os lugares conheçam o vasto território castelhano que está aqui ao lado! Não podemos construir nenhum projecto europeu se não começarmos, de vez, esse trabalho com os nossos vizinhos que connosco partilham uma história com mais de oito séculos!

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No roteiro das viagens da fronteira ganha lugar cimeiro a extraordinária cidade de Salamanca que o poeta António Salvado descreveu um dia assim: "Salamanca representa para mí una segunda patria (mejor: una segunda matria). Ciudad relativamente próxima de aquella donde vivo, desde hace decenas y decenas de ãnos que la ciudad del Tormes constituye el punto más destacado de mi itinerário más allá de la frontera. Es refugio para mis inquietudes, puerto de cobijo para recuperarme de los sinsabores. Permanecer en Salamanca, no sólo por sus universidades, sus monumentos o sus innumerables ofertas culturales, es encontrar, vivificadas, la amistad y la paz. Incontables veces la vi, pero cuando de nuevo lo hago, vuelvo a sentir la alegria de la primera mirada. De ella he recibido tantas pruebas de afecto, no sólo intelectuales. Sin duda, Salamanca es mi segunda matria".

As palavras do poeta António Salvado dão o mote para cruzarmos esta vontade mútua de nos conhecermos melhor.

Estamos aqui ao lado!

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