OPINIóN
Actualizado 19/02/2017
Miguel Nascimiento

"O homem tem ilusões como o pássaro tem asas. Isso é o que o sustenta." Blaise Pascal

A vida deve ser vivida con ilusión como se diz em Espanha e não com ilusão como, por vezes, se traduz para português de forma precipitada e errada. A vida não deve ser uma ilusão, caso contrário podemos estar a viver uma realidade que apenas existe na nossa cabeça. Há quem viva assim, num campo largo ou estreito entre a realidade e a fantasia. É também por isso que há coisas desajustadas e incongruentes que, na maioria dos casos, causam dor e sofrimento. E há tanto sofrimento inútil e desnecessário que devia ser abolido do nosso campo de visão e, sobretudo, do nosso caminho. A palavra ilusão vem do latim illusio que significa "o que está enganado". Ou seja, a ilusão assume uma vertente negativa de engano, de enganar e de estar enganado. Acontece muito nas nossas vidas. O engano a diversos níveis assume uma presença constante. A ilusão também. Ou seja, a ilusão é um engano e uma dissimulação da realidade. A vida é como é. É doce e amarga como bem sabemos. Por isso, devemos enfrentá-la e, acima de tudo, vivê-la com intensidade máxima? até porque, para além de muitas outras coisas, é demasiado curta. Não precisamos, por isso, de ilusões de óptica sobre a realidade. Precisamos da realidade nua e crua. Deixamos as ilusões para os espectáculos de magia. Mas aí sabemos ao que vamos, estamos preparados e retiramos prazer do ilusionismo que estamos a vivenciar, especialmente quando é bem concebido, bem fantasiado e executado. Depois dos aplausos e dos momentos assumidos de prazer e ilusão voltamos as costas ao palco e descemos para a realidade das nossas vidas, sem ilusões. Outra coisa completamente diferente é vivermos con ilusión. Aqui a palavra ilusón está verdadeiramente enraizada na cultura espanhola e tem um encanto especial, sendo também uma palavra encantada. Neste sentido, devemos viver "con ilusión" aproveitando a conotação positiva desta fantástica palavra, deixando que o vento nos sopre todas as esperanças e expectativas a que temos direito para fazermos uma viagem feliz e apaixonada. Esta palavra faz sentido em Espanha e encaixa, na perfeição, no modo de vida dos nossos vizinhos e irmãos. Viver con ilusión faz-nos sentir bem connosco e com a vida. Ela evidencia um pensamento positivo que se expressa nos pequenos detalhes e na forma como vivemos o caminho. Assumo que vivo con ilusión à boa maneira espanhola. A ilusión anda sempre no meu alforge. É com ela que faço as minhas viagens. É companheira e amiga inseparável. É ela que me ajuda a ultrapassar obstáculos e a levantar-me depois de tantas quedas. Com ela sigo sempre em frente, semeio a esperança e agarro o futuro. É com ela que desenho as portas onde elas fazem falta e construo as pontes onde elas são mais necessárias. É com ela que parto sempre em cada viagem e nunca fico amarrado ao cais. É com ela que vôo, todos os dias, para lugares sem destino e através de rotas improváveis. A ilusión faz circular o meu sangue em grande velocidade e não me deixa morrer por dentro, alimentando os meus dias, gerando alegria e felicidade. Às vezes, em momentos menos bons, que vejo sempre com uma clareza demasiado intensa, é a ilusión que não me deixa cair no desânimo, empurrando-me sempre para frente e fazendo-me caminhar em direcção ao sol, à luz que ilumina o caminho e que rasga todos os horizontes para poder passar. Peço-lhe que nunca me abandone. Preciso muito dessa grande companheira de viagem que me ajuda sempre a pintar os dias em tons coloridos. Blaise Pascal disse que "o homem tem ilusões como o pássaro tem asas. Isso é o que o sustenta." Eu também me sustento nas asas da ilusión e é com ela que vôo, tirando os pés do chão.

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