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O outro lado da pandemia
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O outro lado da pandemia

Actualizado 10/05/2020
Miguel Nascimento

O outro lado da pandemia | Imagen 1

A Pandemia do COVID 19 veio alterar e baralhar o nosso tempo. Veio roubar-nos vidas e provocar muita dor e sofrimento. Retirou-nos a paz e acrescentou-nos desassossego e inquietação. Os planos que desenhámos num passado recente estão agora suspensos. As projecções que fazemos para além de um dia ou dois são agora exercícios meramente especulativos. Ficámos confinados. Vamo-nos desconfinando aos poucos e à espera de melhorias e não de regressões que nos obriguem a voltar a encerrar tudo o que desejamos aberto. Precisamos de resolver a pandemia e também de evitar o pandemónio que começou a abraçar a economia. São duas frentes de combate que se interligam de forma íntima e intensa. Precisamos, acima de tudo, de deixar de viver com medo. Desta vez o problema é ainda mais complexo do que nas crises anteriores. As consequências ao nível da saúde e da economia são devastadoras. Temos de continuar a fazer frente a uma e a outra. O contexto em que temos que nos movimentar é muito complexo. Por isso, precisamos de lideranças fortes e de uma consciência (e comportamento) individual igualmente determinada! Cada passo em falso representa vidas perdidas e tombos gigantescos a nível económico. A crise que se abateu sobre nós é muito forte e mergulhou-nos num autêntico cenário de guerra, com baixas muito significativas e muitos danos em diversas geografias. Estamos todos mobilizados para este combate, para esta grande demanda, que exige o melhor de nós. Apesar de todas as circunstâncias difíceis que vivemos e tendo um profundo respeito por todos os que já tombaram em todo o mundo, entendo que podemos olhar para esta pandemia não num sentido positivo mas num sentido, pelo menos, virtuoso. Escrevo esta perspectiva com muitas cautelas e sempre com o pensamento nos mortos, nas feridas profundas e no sofrimento que este vírus nos causou. E ao tentar observar esta pandemia por um lado mais virtuoso, descubro o que as pessoas me vão dizendo em relação aos ensinamentos que esta dificuldade maior nos trouxe. Muitas dizem que agora é tempo de darmos mais valor à vida na medida em que, como se comprova, nada está garantido. Outras dizem que nunca estiveram tanto tempo juntas em família e que aproveitaram esta oportunidade para actualizarem conversas e estreitaram laços que naturalmente existiam mas que nitidamente precisavam de ser tratados com mais cuidado. Outras ainda dizem que agora saboreiam melhor o prazer das pequenas coisas e dos leves passos de liberdade. Podia continuar a desfiar palavras de um tempo novo e renovado que viva debaixo dos nossos pés mas que não conseguíamos vislumbrar em função da nossa falta de tempo para cuidarmos do que é essencial. A voracidade dos nossos dias à procura do acessório e do superficial tem a consequência natural de vivermos juntos, em família, em grupo de amigos ou em comunidade, sem verdadeiramente nos conhecermos. Agora que o tempo parou, fomos forçados ao confinamento e à redescoberta das paredes da nossa casa sem termos lugares secretos onde esconder as nossas fragilidades. Perante um problema, uma discussão, um arrufo, um momento menos bom, deixámos de poder dizer "vou ali dar uma volta e já venho". Agora que o tempo parou e que a nossa liberdade está confinada, passámos a dar valor a tudo o que tínhamos antes e julgávamos, indevidamente, que não tinha valor algum e, por isso, andávamos de um lado para o outro à procura de mais, sempre de mais e mais. Agora que batemos de frente com uma realidade tão difícil e complexa em que somos confrontados com todas as nossas fragilidades, incluindo a nossa própria sobrevivência, talvez possamos olhar para o futuro como uma oportunidade que não devemos desperdiçar, começando por darmos valor ao tempo presente e às coisas boas e simples que se atravessam no caminho que, precisamente, agora é percorrido de forma lenta. Julgo que todos, de uma forma ou de outra, estamos a interiorizar uma nova visão do mundo e das nossas vidas singulares e colectivas. Resta saber apenas se estamos a aprender, verdadeiramente, os ensinamentos desta lição que nos é servida no meio de sangue, morte, suor e lágrimas, ou se, depois da nova liberdade, voltamos ao mesmo, ao tempo de todas as banalidades. Mais uma vez, e com o devido respeito por todos os mortos, espero que saibamos tratar dos vivos para construirmos comunidades mais fraternas e, sobretudo, mais coesas e verdadeiras. Esta pandemia não tem lados positivos, mas tem, talvez, este virtuosismo de nos desconstruir para nos renovar. Saibamos aproveitar esse vento que agora sopra para podermos navegar no tempo certo.

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