Paciência, o segredo dos mestres!

A paciência é uma das sete virtudes. É uma coisa que nos falta neste tempo de exigências imediatas. A vida corre demasiado depressa. Criamos ilusões. Muitas ilusões! A maioria delas são absolutamente desnecessárias. Precisamos de ilusões para continuarmos o caminho. Elas são um bálsamo e uma energia adicional. Mas quando exageramos nas ilusões e nos afastamos em demasia do chão que pisamos enfrentamos também adversidades, frustrações e, sobretudo, doses elevadas de infelicidade. Queremos tudo! Desejamos tudo! E rápido! Não temos paciência para nada. Não temos tempo para nada. Não cultivamos a tolerância. Os tempos são e vão assim, difíceis. Há muito que digo e escrevo que precisamos de parar um pouco para reflectirmos sobre o nosso caminho e sobre o tempo da nossa vida. Fazer isso implica que tenhamos paciência. Primeiro connosco e depois com os outros. Precisamos dos equilíbrios que não temos. Não sabemos cultivar a paciência e o tempo que, como dizia La Fontaine, "dão mais resultado que a força e a raiva". Bem sei que não é fácil cumprir este caminho. A nossa disposição mental está mais situada no campo da reacção e do impulso. Reagimos quase sempre a dobrar aos desafios que nos são colocados a cada instante. A nossa vida é frenética. Passamos por ela sem a vermos tal é a velocidade a que circulamos. É tudo um instante. Acontece tudo demasiado rápido! Reagimos com violência à violência. Agredimos quem nos agride. Agredimos por antecipação e também por opção estratégica. Recebemos e lançamos ódios e incompreensões. Andamos nisto, nesta violência gratuita, neste ciclo vicioso, apenas para vermos quem chega primeiro a lado nenhum. Falta-nos paciência para, a partir dela, fazermos muitas coisas que nos permitam, acima de tudo, saborear a vida como ela merece ser saboreada. Desperdiçamos as oportunidades que nos surgem no caminho. Não aprendemos nada com a experiência nem com o "tempo que vai correndo como as águas do rio" como sempre diz, de forma sábia, o meu amigo António João Paredes. Não aprendemos lições nem retiramos ilações do que nos vai acontecendo. Passamos de um instante para outro e de uma fase para outra. Apenas nos concentramos em seguir em frente, lambendo as feridas de cada combate e sem levantarmos os olhos do chão. Seguimos em frente e pronto, já está! É assim, uma coisa quase sem sentido. O grande Dalai Lama diz-nos que "aprimorar a paciência requer alguém que nos faça mal e nos permita praticar a tolerância." É exactamente isso que não fazemos! Não aprimoramos a paciência porque reagimos sempre mal a quem nos faz mal. Não nos dispomos a quebrar o ciclo. Não cultivamos a tolerância! Não temos paciência! Mas é dela que mais precisamos nestes tempos conturbados. Somos aprendizes mas não aprendemos nada. Não queremos aprender nada. Apenas resistimos a isto e áquilo. E os que melhor resistem são os que já estão preparados para a conflitualidade. Esses resistem, são resilientes porque apenas querem andar para a frente sem se importarem com o que fica para trás. Esses nem sequer pensam no que já perderam concentrando-se apenas no que podem ganhar se seguirem em frente, mesmo com perdas constantes ao longo da viagem. O intenso Inayat Khan disse-nos que "se há alguma coisa que dá soberania à alma é a paciência. Qual era o segredo dos grandes mestres que realizaram grandes coisas, inspiraram muitas pessoas e ajudaram muitas almas? O segredo deles era a paciência." Os aprendizes são muitos e os mestres são poucos, muito poucos. Nem todos podem alcançar a sabedoria dos mestres porque não se dispõem a isso. Não têm paciência. Mas, se todos refrearem um pouco a velocidade do caminho e aprenderem a cultivar a paciência e a tolerância tenho a certeza que o mundo terá mais equilíbrio a começar pelas vidas de cada um de nós. Este é o tempo de diminuirmos a quantidade para aumentarmos a qualidade e de reduzirmos a velocidade a que circulamos para, com paciência, depositarmos mais amor nas coisas que fazemos para vivermos melhor. Com paciência seremos todos mais felizes e certamente mais virtuosos. Vamos lá, não custa nada. Basta respirarmos um pouco mais pausadamente, abrirmos os braços em direcção ao sol e prestarmos atenção a quem caminha ao nosso lado para, com paciência, percorrermos um caminho novo. E isso é fácil? Não, não é! Mas é para fazer já, com paciência!