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O Inferno são os outros!
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O Inferno são os outros!

Actualizado 11/12/2016
Miguel Nascimiento

"O Inferno são os outros. Projectamos nos outros a nossa realização e aguardamos deles algo que amenize o vazio que nos habita." Jean Paul Sartre

O Inferno são os outros! | Imagen 1

Recorro a Jean Paul Sartre e a uma das suas muitas frases célebres para olhar para o espelho de nós que os outros representam: "O inferno são os outros. Projectamos nos outros a nossa realização e aguardamos deles algo que amenize o vazio que nos habita." Reforço esta ideia com o que nos diz o psicólogo e escritor brasileiro Luiz Gasparetto: "nós procuramos nos outros o que negamos em nós." Talvez por isso a nossa relação com os outros seja sempre marcada pela tensão e pelos "infernos" que vemos todos os dias. É aqui que entra uma das formas mais universais da irracionalidade: as conversas maldizentes! Falar mal dos outros tornou-se na arte da estupidez, muito estimulada ao longo de muitos séculos! Falar mal dos outros é uma velha tradição. Todos dizem mal, mesmo aqueles para quem esta arte não é familiar. Às vezes, mesmo sem querer, lá estamos nós a dizer mal disto e daquilo ou deste e daquele. Neste patamar não há muitas excepções, todos dizem mal uns dos outros, mesmo que seja esporadicamente. Como é óbvio há casos e casos. Mas aqueles que dizem mal estão maior número do que aqueles soltam elogios com absoluta sinceridade e sem qualquer necessidade de bajulação. A este propósito Nelson Mandela disse-nos que acreditava que "se todos os homens soubessem o que dizem uns dos outros, não haveria quatro amigos neste mundo." Dizer mal tornou-se um vício da sociedade. Todos gostam de dizer mal e de comentar a vida alheia, talvez para se esquecerem das suas vidas e em particular no vazio em que se tornaram. A maledicência está quase sempre associada à infelicidade que, necessariamente, é alimentada todos os dias. Do reino da maledicência não sai nenhuma conquista, apenas destruição, ódio e sofrimento. E aqueles que não resistem à tentação de dizer mal dos outros acabam por sofrer do efeito boomerang que esse efeito provoca. Já o escritor francês Antoine Rivarol dizia que "circula no mundo uma inveja velocípede que vive de intriguinhas: chama-se maledicência. Diz estouvadamente o mal de que não tem certeza, e oculta o bem de quem tem evidência." Falar mal dos outros é um vício como dizia Blaise Pascal. Mas é um vício que temos que combater para conseguirmos abrir o coração à sinceridade e aumentarmos a autoestima de todos, começando por reconhecer o que todos fazem de bem e relevando o que fazem de menos bem. Todos fazemos coisas bem e menos bem. Todos temos virtudes e defeitos. Vivemos nas nossas humanas imperfeições, com altos e baixos, como todos a todo o tempo. Não quero ser moralista. Nem é esse o propósito deste breve "arrazoado" como costuma dizer o poeta António Salvado. Cada um assume o seu posicionamento no caminho. Apenas entendo que não devemos guardar os elogios para as cerimónias fúnebres. Aí já não servem de nada a não ser para apaziguar os infernos interiores. A crítica é tão saudável como elogio. Aprendemos muito com as duas classificações. Já a maledicência é claramente dispensável porque ela é apenas o veículo venenoso dos fracos que nunca construiu nada à face da terra. E só podemos combater a maledicência se todos procuramos a felicidade e se fizermos mais e melhor pelos outros e por nós. Todos temos inseguranças e incertezas. Mas para as combatermos não precisamos de diminuir as seguranças e as certezas dos outros. Temos apenas que seguir o nosso caminho e abrir o nosso coração. E nessa viagem devemos fazer o que nos disse Benjamin Franklin: "procura nos outros as qualidades que eles possam ter; em ti, procura os defeitos que certamente tens." Neste sentido, a aprendizagem do caminho será mais eficaz e a paisagem evidenciará mais momentos de alegria; aí a felicidade, ainda que sempre momentânea, andará mais próxima de todos nós. Não podemos mudar o mundo. Isso nunca estará ao nosso alcance. Mas podemos mudar alguma coisa começando por nós, pela nossa maneira de nos relacionarmos com os outros. E se fizermos um pequeno esforço e conseguirmos olhar, em primeiro lugar, para dentro de nós verificamos, com relativa facilidade, que o espelho no pode exibir uma imagem diferente, nomeadamente ao evidenciar que o inferno não são os outros mas também que não somos nós! Nesse corredor estreito que o reflexo do espelho representa há lugar para que o amor, os afectos e a sinceridade iluminem o caminho onde outrora a escuridão reinava. Este corredor estreito também nos dará todas as oportunidades para sermos felizes se soubermos abrir o nosso coração e confiarmos mais nos outros, começando por nós!

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