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Temos muito que aprender com a nossa fragilidade!
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Temos muito que aprender com a nossa fragilidade!

Actualizado 04/12/2016
Miguel Nascimiento

"Tudo o que fazemos é marcado pela fragilidade da nossa condição. Somos esta coisa humana, provisória, incerta, inacabada, imperfeita. Mas somos também poeira enamorada. Há em nós alguma coisa de maior. Mesmo no erro. No erro podemos encontrar um caminho.

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A belíssima canção de Sting, "Fragile" recorda-nos "how fragile we are" e também que "incessantemente a chuva cairá / Como lágrimas de uma estrela / Incessantemente a chuva dirá / o quão frágil nós somos." Na verdade, a fragilidade é uma constante nas nossas vidas. Nascemos frágeis e vamo-nos sentindo frágeis ao longo da nossa vida. Desde logo, e à medida que a idade vai avança, vamos interiorizando e percebendo a nossa finitude. Cheiramos a morte de perto. Percebemos que, fisicamente, somos frágeis e que a qualquer momento podemos estar no fim da nossa caminhada. Por outro lado, sentimo-nos frágeis quando alguma coisa corre mal na nossa vida. E acontece tanta coisa! E acontece tanta coisa não queríamos que acontecesse! Muitas vezes a vida que acontece não é a vida que sonhámos! A toda a hora sofremos contrariedades. Estamos tantas vezes em baixo! Ficamos tristes, choramos e, por vezes, libertamos a nossa raiva e frustração para libertarmos as cargas negativas que nos abraçam como se fossem coletes de aço! No fundo, somos humanos e reagimos ao que nos acontece segundo a nossa imperfeita humanidade. Mergulhamos na nossa fragilidade, na fragilidade da nossa alma. Lambemos as nossas feridas e lá nos vamos erguendo como podemos. Há situações que levam mais tempo a recuperar do que outras. Os altos e baixos fazem parte da nossa viagem e a fragilidade também. A cada passo do trajecto percebemos que a fragilidade caminha ao nosso lado. Somos pequenos se comparados com a grandeza do universo. Somo pequenos e frágeis! Porém e assumindo a nossa imensa fragilidade devemos ter a capacidade, sobretudo a emocional, de vermos para além do que o espelho nos diz. Será que somos assim tão frágeis? Já parámos para pensar ou interpretar aquilo que julgamos serem as nossas fragilidades? Um dos maiores pensadores da sabedoria oriental, Lao Tsé, disse-nos há muito que "quando os homens ingressam na vida são tenros e frágeis; quando morrem são hirtos e duros. Por isso os hirtos e duros são, desde o princípio, mensageiros da morte e os tenros e frágeis são os mais credíveis mensageiros da vida." E essa condição mantém-se nos tempos actuais. A fragilidade é afinal um espelho do coração que transporta a mensagem da vida, da esperança, da comunhão e da solidariedade. Um pensador actual, José Tolentino de Mendonça, diz-nos a este propósito que "a fragilidade (ou vulnerabilidade, um dos seus sinónimos) é uma condição de partida, uma espécie de pacto de origem, se pensarmos no modo como fomos gerados e introduzidos na existência. Mas ela persiste, metamorfoseando-se ao mesmo tempo do que nós, acompanhando-nos." Precisamos da fragilidade para nos sentirmos humanos e para transportarmos, mesmo nas horas mais difíceis, a mensagem da vida e da esperança. Aqueles que são fortes e hirtos, inamovíveis e inflexíveis, estão mais próximos de um cadáver do que de um movimento, por muito errático e falível que seja, que transporte a luz para o caminho. As coisas rijas e frias estão mais próximas da grandeza do universo. São mais fortes e hirtas, mas são menos iguais a nós. São coisas sem coração! Sobre esta perspectiva Blaise Pascal apresentou-nos um pensamento extraordinário: "o homem não passa de uma cana, a mais fraca da natureza, mas é uma cana pensante. Não é preciso que o universo inteiro se arme para o esmagar: um vapor, uma gota de água, bastam para o matar. Mas mesmo que o universo o esmagasse, o homem seria ainda mais nobre do que aquilo que o mata porque sabe que morre e a vantagem que o universo tem sobre ele; o universo desconhece tudo isso." Sim, o universo é grande e nós somos pequenos, muito pequenos. Quando estamos em baixo, no meio de todas as nossas fragilidades, sentimo-nos ainda mais pequenos. Dizemos mal de nós e da nossa vida. Desejamos uma sorte diferente da que temos! Mas, não paramos um minuto para pensar na sorte que temos em sentir a fragilidade, essa coisa maior que faz a diferença na nossa dimensão humana que, apesar de pequena, será sempre maior que o universo. Regresso a José Tolentino de Mendonça: "tudo o que fazemos é marcado pela fragilidade da nossa condição. Somos esta coisa humana, provisória, incerta, inacabada, imperfeita. Mas somos também poeira enamorada. Há em nós alguma coisa de maior. Mesmo no erro. No erro podemos encontrar um caminho." Por isso, quando estamos em baixo, quando nos sentimos em baixo, quando partilhamos o espaço com todas as nossas fragilidades, devemos lembrar-nos que é precisamente aí que reside a grandeza da nossa dimensão humana e que é com o nosso coração que trilharemos as veredas que nos devolverão a esperança e nos alimentarão a vida e os afectos. Aqueles que, do alto da sua fortaleza, não cedem um milímetro a esta vertente humana são como pedras frias e duras, que estão mais próximos da morte e, certamente, mais longe da esperança e dos afectos. Celebremos a fragilidade, esta coisa tão humanamente forte!

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