O fim do ano está a chegar. O ciclo repete-se. E ainda bem. Há algo de profundamente humano nesse movimento circular do tempo, que nos lembra que a vida não se faz apenas de linhas retas, mas de regressos e aprendizagens. Como escreveu T. S. Eliot, “no meu fim está o meu princípio”. Este é um tempo que se encerra para se abrir outro, como acontece há largas luas e sóis, desde que aprendemos a observar o céu para compreender a terra.
O solstício de inverno chega sem alarde, quase em segredo, mas traz consigo uma promessa essencial: a partir daqui, a luz começa a regressar. Lentamente, dia após dia, vão-se abrindo espaços de claridade. E precisamos muito deles. Precisamos da luz enquanto caminhamos por territórios de sombra, enquanto atravessamos tempos de incerteza, fragilidade e medo. Como escreveu Leonard Cohen, “há uma fenda em tudo; é assim que a luz entra”.
A humanidade sofre em demasia. Muitos dos lugares que reconhecíamos como espaços de luz parecem hoje cobertos por uma neblina espessa, consentida e tolerada, que se instala quase sem darmos conta. Uma neblina que nos vai roubando a serenidade, a confiança e a esperança no futuro. É feita de ruído constante, de divisões artificiais, de uma pressa que nos afasta do essencial.
Mas para além do contexto global, cada um de nós carrega as suas próprias circunstâncias. As suas dores silenciosas, as suas perdas, os seus recomeços adiados. Somos singulares, mas não estamos sós. Somos parte de uma comunidade. E isso exige responsabilidade. Temos de ajudar a somar e não a dividir, de cuidar em vez de ferir. Como lembrava Martin Luther King Jr., “estamos presos numa rede inevitável de mutualidade, ligados num único tecido de destino”.
Cada gesto de bondade, por mais simples que pareça, tem impacto no todo. Um ato consciente, uma palavra justa, uma escuta atenta podem abrir clareiras onde antes só havia nevoeiro. Temos de fazer a diferença. Mesmo quando o caminho é incerto. Mesmo quando o futuro se apresenta como uma incógnita e um enorme desafio.
Este é, por isso, um tempo de balanço. Um tempo de reflexão e de encontro connosco. Um tempo de pausa necessária, em que olhamos para trás com honestidade e para a frente com humildade. Não para nos determos no que falhou, mas para aprender, ajustar e seguir.
Que este fim de ciclo nos ajude a atravessar a escuridão com mais consciência. Que o novo ano nos encontre mais atentos à luz que regressa — dentro de nós e entre nós — e mais disponíveis para construir, juntos, caminhos de esperança.