A palavra foi banalizada. Diz-se tudo e nada a todo o instante. Os “sound bites” dominam as redes sociais. Atrás deles seguem hordas de vociferadores. Uns estão contra e outros a favor. A popularidade mede-se no número de “likes” e de comentários que roçam o insulto, exibindo a ausência de princípios e valores que sempre nortearam a edificação da humanidade. A essência das coisas vai desaparecendo. O que importa é a espuma dos dias. O ruído é imenso. Mas no final da jornada pouco ou nada se aproveita. Como se costuma dizer, tudo espremido vale quase zero. Tudo isto porque a palavra foi banalizada. Quase todos a banalizamos ao entrarmos nesta corrida louca e desenfreada dominada pelo poderio dos “sound bites”. Precisamos de uma pausa no meio de toda esta agitação. Precisamos de outra calma e novas ponderações para que a palavra volte a ganhar o seu peso e brilho. Há toda uma geografia de pensamento entre falar e estar calado. Entre dizer e não dizer. O escritor moçambicano Mia Couto é, desde há muito, o grande afinador de silêncios. Um verdadeiro mestre na arte de aprender a calar que, segundo ele, exige anos de experiência. Na verdade, aprender a calar é um exercício de sabedoria, de maturidade e autocontrolo. Os diálogos nas sociedades africanas que inspiram Mia Couto são feitos de silêncios demorados. Devido a essa extraordinária circunstância diz-nos que “o silêncio não é a ausência da fala, é o dizer-se tudo sem nenhuma palavra.” A nossa vida precisa de quietude e da valorização do “não dito” para que tudo se entenda melhor. A palavra que é gerida com parcimónia tem mais valor. Tem mais força. Aprender a calar não é uma tarefa fácil, exige anos de experiência. Mas é esse o caminho que devemos trilhar se hoje quisermos ser melhores que ontem, valorizando a essência da humanidade. A palavra é muito importante. Por isso não deve ser banalizada. O silêncio é o chão da temperança. Se o soubermos afinar resgataremos o melhor de nós para podermos ajudar os outros. Existe demasiado ruído onde devia haver mais silêncios.Aprendamos a calar-nos para que os corações falem.