Inspiro-me no provérbio oriental - “o prego que se destaca é martelado” - para refletir sobre o que nos acontece quando, por alguma razão, nos destacamos. A imagem de um prego destacado a ser martelado remete-nos para a geografia da pressão externa, da crítica, do ataque pessoal, da inveja e de todas as outras coisas que afetam quem faz alguma coisa, sobretudo fora do carreiro da normalidade aparente.
Queixamo-nos tantas vezes dos martelos que nos batem na cabeça com força quando nos destacamos como se a vida nos quisesse punir pela nossa ousadia. Por isso, tentamos fazer em silêncio e fora dos holofotes de toda uma comunidade de invejosos que tem pavor a tudo o que se destaca no caminho. Por isso, tendemos a olhar para este provérbio oriental numa perspectiva negativa, deixando que a imagem do martelo a bater no prego seja pesada e reveladora da maldade que tem sempre espaço para crescer no seio da humanidade.
Mas, se refletirmos de forma mais profunda sobre esta imagem aparentemente rude e violenta encontraremos paralelismo nas marteladas que levamos com um processo positivo de crescimento, desenvolvimento e amadurecimento do nosso caminho. Se não fizermos nada; se não nos destacarmos a fazer alguma coisa, nunca levaremos marteladas por causa disso. Mas também não sairemos do mesmo lugar.
Neste sentido, a “martelada” assume um sinal positivo e o cumprimento de um propósito. Afinal, de que nos serve um prego se não for para ser pregado? Um prego que nunca foi martelado não evidenciará o efeito das marteladas duras. Mas também não ficará reluzente para sempre. O tempo e as circunstâncias irão envolvê-lo em ferrugem, destruindo-o sem que ele tenha cumprido o seu propósito.
As marteladas fazem parte da vida. Temos que estar preparados para as levar. É nesse jogo de destaque e marteladas na cabeça que formamos o nosso carácter e que fundamos a nossa resistência. É justamente entre marteladas que vamos cumprindo o nosso propósito.
Não devemos ter medo da exposição e do destaque. Não procuraremos as luzes dos holofotes mas também não nos resignaremos ao nosso canto em permanência. Estaremos aqui e onde for necessário para cumprirmos o nosso propósito, levando as marteladas que tivermos que levar, na certeza de que seremos cada vez mais fortes, ao ponto do martelo evidenciar também as marcas do cumprimento da sua função. Estamos aqui, sem medo de sermos nós e no que a vida nos transformar.