Um amigo diz-me, com frequência, que as coisas que fazemos são imperfeitas para que possamos melhorar. Na sua perspectiva de vida entende que devemos encarar a imperfeição como uma oportunidade para podermos evoluir, para afinarmos o que devemos afinar. Um dos grandes significados da vida é sobre o trabalho que temos que fazer connosco, sempre em absoluta correlação com os outros, no desenho da escultura inacabada que nos empurra em direção ao futuro. Habituados que estamos ao culto da perfeição quando, na verdade, somos um somatório de erros e imperfeições, vamos valorizando tudo o que nos afasta da realidade na medida em que fabricamos imagens e conceitos que apenas existem na nossa cabeça.
As técnicas de marketing e de comunicação são cada vez mais poderosas e dominadoras de todas as geografias da ilusão. Elas conhecem bem as nossas fragilidades e todos os caminhos onde sabem que podem avançar para destruir e construir segundo a sua vontade e interesses. Ao contrário, as sociedades orientais valorizam a plenitude, a iluminação e a beleza, qualidades e virtudes que podemos ver reunidas na imperfeição.
Para os japoneses “Ens?“ é a representação dessa magnitude que só pode ser alcançada através da imperfeição, ao mesmo tempo que se reforça que tudo o que é incompleto é também a base da nossa existência.
O espelho que fitamos tantas vezes pode ser, se deixarmos, o nosso melhor conselheiro e, se assim quisermos, também o nosso melhor amigo. Ele é a nossa imagem reflectida, apresentado-se sempre disponível para conversar connosco. Se assumirmos a nossa imperfeição acordamos de vez para a realidade. Nesse momento seremos livres de todas as amarras da perfeição que nos impuseram ao longo do nosso caminho. E se somos imperfeitos e livres seremos, seguramente, felizes nesse esforço permanente para melhorarmos. E se nos conseguirmos esculpir em direção ao belo, partindo das nossas honestas imperfeições, estaremos, pelo menos, a construir um mundo mais fraterno.