A vida corre apressadamente. As redes sociais precipitam-nos para o abismo do instante. Tudo tem que acontecer já, no tempo do agora. Seguimos o imediatismo, o que nos oferecem e vendem a cada minuto. Não paramos para pensar. Julgamos as ações dos outros com a moralidade da gelatina que treme por todos os lados. Acreditamos em todas as falsas verdades que através do telemóvel nos metem pela alma adentro. Não temos filtros. Não escrutinamos a informação.
Não a encaixamos na ética e nos valores da antiga e ancestral sociedade ocidental. Exigimos, julgamos e condenamos num ápice. Não queremos ver o outro lado da história. Estando tudo ali à nossa frente basta-nos clicar numa tecla como se disparássemos para um alvo em movimento. A este propósito recordo um provérbio africano que nos diz o seguinte: “ Enquanto o leão não aprender a falar, a história será contada pelo caçador."
Este provérbio de grande significado vai muito para além da velha disputa entre leões e caçadores. Como sabemos, somos sempre maus numa história mal contada. Muitos sobrevivem neste chão enlameado das meias verdades e das mentiras inteiras que constroem narrativas que ajustam interesses mesquinhos para que alguns continuem a receber os “pratos de lentilhas” que lhes garantem o sustento, na falta de melhor. Também como se sabe, qualquer história tem o seu contexto, pelo menos duas versões e a verdade.
Por vezes, a verdade está mais próxima do que cala e aguenta as injustiças do que dos outros que se apressam no relato de versões que encaixam em narrativas tolas e bacocas, devidas para consumo instantâneo. A serenidade e a tolerância são valores que devíamos cultivar mais para diminuirmos esta pressão social que nos faz julgar sem pensar, sem ouvir, para depois etiquetar, de forma apressada. O tempo antigo tinha os seus pergaminhos e a sua sabedoria.
Agora, apesar das mudanças sempre necessárias, vamo-nos perdendo nesta espuma dos dias que esta aldeia global acelerada, tanto sacraliza. O tempo deve correr mais devagar para deixar espaço à interpretação e à reflexão. Todos os dias temos que correr, sejamos leões ou gazelas, como nos conta Mia Couto na sua “confissão da leoa”. A sobrevivência é de importância crucial. Mas a vida é mais do que isso. Ela exige outro alcance do olhar e do coração, começando e acabando no respeito que devemos aos outros, mesmo que não concordemos com as suas opiniões.
Neste tempo em que vamos perdendo a nossa humanidade como se fosse areia que se esvai entre os dedos da nossa mão , precisamos muito que, em sentido figurado, os leões aprendam a falar para contarem a sua versão da história. Numa comunidade devemos dar voz a todos para que se restabeleça o equilíbrio que foi perturbado pela velocidade das coisas. Sim, temos que ir mais devagar, para podermos pensar, enquanto os leões não aprendem a falar.