Batemos à porta. Desejamos atravessá-la porque julgamos que para além dela está o caminho. Nem sempre a porta se abre. Nem sempre nos deixam entrar apesar da nossa insistência e do trabalho árduo que empreendemos para termos chegado ali àquela passagem. Batemos outra vez e encostamos ouvido na madeira fria e austera. Não conseguimos ouvir nada. O nosso coração que deseja entrar mais do que a cabeça experimenta, mais uma vez, o sabor da desilusão, mergulhando numa profunda tristeza. A mão ergue-se para tentar de novo, mas uma voz interior diz-lhe, com firmeza, para não o fazer, para se retirar!
Se aquela porta não se abre o caminho não é por ali. Nem sempre batemos na porta certa. E por vezes não percebemos a imensa sorte que tivemos por não termos entrado na porta que nos dava passagem para o caminho que julgávamos ser o nosso. Por isso, não devemos desanimar quando as portas não se abrem ou algumas se fecham. O que importa é continuar. É andar. Resistir. Se seguirmos encontraremos o caminho. O nosso. Desistir nunca será uma opção.
Termos de bater a todas as portas que encontrarmos. Uma dessas será a nossa que se abrirá de forma tranquila e acolhedora. Sem esforço. Mas essa porta é estreita porque largo é o caminho. Mesmo depois de muitas voltas e de termos encontrado a passagem certa temos que respeitar a sua dimensão estreita e o que isso significa para a nossa viagem. Em todas as voltas que demos fomos, sem nos darmos conta, limando as nossas imperfeições e moldando o nosso carácter e a nossa personalidade. Provavelmente não estávamos prontos para entrar nas primeiras portas do caminho a que batemos. A vida ensina-nos.
Transforma-nos. E não termos logo o que queremos é uma benção. A porta certa abrir-se-á com naturalidade quando estivermos prontos. E só estamos prontos depois de muito andarmos. Depois de termos lidado com as muitas frustrações e desilusões de tantas portas fechadas e de outras que se fecharam.
Agora que estamos aqui, batemos à porta e ela abre-se quase de imediato. Mas antes de a franquearmos olhamos para trás e percebemos melhor a lição do caminho andado. Depois da porta aberta segue-se outro caminho e outras portas para bater, sempre num processo de crescimento e aperfeiçoamento contínuo até chegarmos ao último patamar da demanda. A vida é bela. Contemplemos a porta sem deixarmos de andar no caminho.